domingo, 27 de julho de 2008

Sabedoria Milenar

Apressado, desço do ônibus na 9 de Julho completamente congestionada e tomo um táxi na ruazinha transversal.

- Boa noite!
- Boa noite, tudo bem? Será que conseguimos chegar à Av. Paulista nuns 20 minutos, indo aqui por dentro?
- Conseguimos sim. São-paulino, palmeirense, corinthiano ou santista?

A pergunta constrange imediatamente. Apesar de não ter problema em afirmar que não acompanho futebol, não torço para time algum, temo decepcionar esse senhor que só está tentando ser educado.

- Não torço para clube nenhum. Quando paro para acompanhar, assisto independente de quem estiver jogando.

- Gosta do futebol então, torce pra quem estiver jogando?

- Isso... Apesar de minha mãe ser corinthiana e meu pai santista, - afirmo tão convicto da preferência futebolística do meu pai quanto ele da escalação atual do peixe. Esse é um folclore que se estabeleceu pelo fato dele ter trabalhado em Cubatão, perto de Santos, quando veio de Minas para morar em São Paulo. Gosta tanto do Santos quanto eu de filmes de terror.

- Legal. Eu gosto de esporte. Cê viu o pessoal do vôlei?
- Não.

Após um inventário completo do jogo da seleção brasileira de vôlei masculino disputando não sei o que com não sei que país, o condutor defende que as meninas do vôlei brasileiro também são boas, mas às vezes amarelam. E voltamos ao futebol. Comento estar decepcionado com a violência nos arredores dos estádios.

- É, rapaz, isso na minha época não era assim não.
- Desanima...
- Com certeza, a cartolagem e a própria forma do jogador encarar a carreira são transmitidas ao torcedor. O cara entra no time pra jogar, assina um contrato e recebe 10% do valor total. O contrato é de 1 ano e ele joga 6 meses, quando um clube europeu leva o cara embora, paga em euro... desse jeito o torcedor perde aquela vontade de torcer de verdade... o ato de torcer passa a ser só vasão de coisa negativa.

Puxa, pensei, esse cara entende do negócio. Vale continuar o papo. Não é daqueles chatos que só fala do trânsito e da previsão do tempo.

- Se eu pudesse trabalhava com esporte.
- Já levou algum atleta?
- Difícil, eles tem transporte próprio. Mas dia desses peguei um deles às 3 da madrugada na esquina da Major Sertório com a Cesário Mota Jr.. Preciso falar mais alguma coisa?
- Não. Que coisa, heim?
- Pois é, a moda do Ronaldo parece que pegou. Precisamos chegar onde na Paulista?
- Na Gazeta, tenho que entregar uns trabalhos da faculdade.
- Estuda o que?
- Faço uma pós-graduação em Jornalismo.
- Beleza.
- Estou no final do curso.
- E acabando aí vai fazer o que?
- Descansar um pouco. Tô escrevendo um livro, tenho um filho pequeno...
- Falta só plantar uma árvore então.
- E o sr., tem filhos?
- Meia dúzia.
- Então tô falando com um especialista!
- Nesse assunto sim.

Desço na esquina da Campinas com a Paulista, a tempo para entregar o trabalho.
Pago-lhe a corrida, agradeço, em meio a votos mútuos de sucesso e saúde. Bom encontrar
gente bacana, feliz com o que faz, de bem com a vida e inteligente.
Esqueci de perguntar-lhe o nome.
Mais um sábio anônimo na gigantesca São Paulo que tanto amo.

2 comentários:

Красный Волк disse...

Pô, Ígu, denegrindo a imagem da grandiosa Vila Buarque?!
=P

Anônimo disse...

Ficamos assim meu caro... recebo minha nota e a corrida é por minha conta... ou a cerveja, dependendo do resultado. A propósito, acho que todo brasileiro deveria gostar de futebol... não concorda ???