domingo, 5 de abril de 2009

Jamal Malik e a construção do conhecimento

Com certeza o maior mérito da história de Vikas Swarup filmada por Danny Boyle em Quem quer ser um milionário? é a forma como o protagonista Jamal Malik consegue ter sucesso no show de perguntas recuperando momentos marcantes de sua vivência para dar as respostas certas às perguntas feitas pelo apresentador. Daí dá pra pensar que o mérito todo para o sucesso da história é de Swarup, mas não tivesse Boyle escolhido bem momentos marcantes do livro para filmar, essa narrativa tão interessante não faria diferença nas telas de cinema. Não entro aqui no mérito do que inclusive alguns detratores do filme levantaram como bandeira: Quem quer ser um milionário? estaria romantizando a pobreza na Índia. Não era a novela da Globo que estava fazendo isso? Enfim, bela narrativa sobre a construção do conhecimento através do empirismo. E no fim das contas o triunfo do sábio popular acontece por conta da mais pura e essencial das ambições do ser humano, a de amar e ser amado.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Watchmen: para quem?

Acabo de assistir Watchmen e enfim entendo porque foi tão difícil, nos últimos dias, encontrar uma sala de cinema exibindo o filme em horário decente em São Paulo, já que só na próxima segunda completa-se um mês de exibição do filme no Brasil. O fato é que a adaptação é direcionada muito mais para quem leu e gostou da HQ, com pouca pretensão, a meu ver, de angariar um novo público, o que no fim das contas acho bom. Não por conta da questão do público em si. Quando um livro ou HQ vira cinema é claro que há o mínimo de intenção de atingir um interlocutor diferente com uma boa história. Mas no caso de Watchmen, se o direcionamento pendesse para essa tendência com certeza sacrificaria-se a história. No fim das contas acredito mesmo que a trama de Alan Moore acabou se mostrando complexa e pouco interessante para um suposto grande público de cinema. Quem curte mesmo a história já viu no primeiro mês, e assim os cinemas vão tirando o filme de sua programação ou incluindo-o em horários estranhos, ou muito cedo ou muito tarde, o que se torna um complicador já que a duração é de três horas.
A opção de Zack Snyder e dos roteiristas David Hayter e Alex Tse por uma adaptação fiel, tanto em enredo (extremamente próximo da HQ) quanto em linguagem, mostra-se evidente, por exemplo, em alguns momentos pontuais, como o do jantar de Daniel Dreinberg e Laurie Juspeczyc em que esta cita a Lei Keene e não há nenhum indício próximo na estrutura do roteiro que explique ao espectador não-iniciado do que se trata. Para a apresentação dos personagens, Snyder e os roteiristas também não fugiram da HQ, o que tornou inevitável a transposição para a tela do volume 1 (minha edição é a da editora Abril, 1999, em 12 volumes) praticamente na íntegra.
Efeitos especiais funcionam muito bem a não ser pelo uso de slow motion um tanto excessivo. As caracterizações estão todas muito boas também, e os detalhes pincelados aqui e ali são para fã de quadrinhos nenhum botar defeito, como a aparição do jornaleiro e do menino que lê a história do Cargueiro Negro. Das atuações, gosto da maior parte, e destaco as de Matthew Goode (Ozymandias) e Jackie Earle Haley (Rorschach) como as melhores. Só Malin Akerman é uma Laurie Jupiter bem fraca, o que salta aos olhos já que se trata de um dos personagens centrais da história. Emocionante a sequência inicial, com os quadros estáticos ao som de The times they are a-changin'. Bom também ouvir o All Along the Watchtower na versão do Hendrix.
Enfim, especial ver Watchmen ganhar vida na tela do cinema, e uma ou outra ressalva não comprometem. Se uma meia dúzia de interessados parou para conhecer a HQ depois de ver o filme já está valendo. De vez em quando Hollywood tem que trabalhar menos para os cifrões e mais para o nosso prazer, é o mínimo.