quinta-feira, 29 de maio de 2008

Reverend Gary Davis

Assistindo ao documentário Warming by the Devils Fire, da série The Blues Davis, do Scorsese, que saiu em edição exclusiva pela Livraria Cultura, fiquei impressionado com a garganta de um cidadão chamado Blind Gary Davis, por ser cego, e também conhecido como Reverend Gary Davis desde que resolveu trilhar os caminhos do Senhor. Como bem lembrou Win Wenders, nos extras do DVD de seu documentário para a mesma série (The Soul of a Man), entre o Gospel e o Blues a diferença é simplesmente a mensagem, a essência musical dos dois gêneros é a mesma. Dessa forma, antes ou depois da conversão, Gary Davis impressiona pela voz potente e por sua destreza com o violão. Era autodidata. Davis nasceu em 1896 e morreu em 1972. Para conhecê-lo um pouco melhor, vale olhar a bio do All Music Guide e vídeos no YouTube. Estou esperando chegar lá na loja uns cds que comprei. Só dois títulos estão disponíveis na importadora, não é fácil achar material desses artistas de blues de raiz na Internet, a não ser que você seja adepto dos downloads, o que não é minha praia. Um dos discos que vai chegar é da coleção Heroes of The Blues, e tem ilustração de Robert Crumb na capa.

Um reverendo cujo sermão vale ouvir!

terça-feira, 27 de maio de 2008

Os Mestres Mulatos

Dia desses atendi lá na livraria o Sr. Decio Carraro, que ao final do atendimento me perguntou se eu gostava de música clássica e me presenteou com um cd: Sinfonieta dos Devotos de Nossa Senhora dos Prazeres, do projeto Os Mestres Mulatos. A coordenadoria é do maestro Marcelo Antunes Martins, e o objetivo do projeto é resgatar a história da música brasileira, desde manuscritos do século XVIII até chegar aos tempos do compositor Carlos Gomes, para muitos a mais antiga referência de música erudita no Brasil. O que chama a atenção neste cd em especial, é o fato de todos os compositores cujas obras estão gravadas terem sido filhos ou netos de escravos. Com meu parco conhecimento de música erudita, embasado numa percepção muito mais instintiva que técnica, ouvi o disco algumas vezes e o que mais me chamou a atenção são as nuanças do clima brasileiro em uma cultura que importamos do Velho Continente. Tais compositores, como Luís Álvares Pinto (1719-1789) e João de Deus de Castro Lobo (1794-1832), são donos de composições belíssimas, de suaves melodias que fazem querer ouvir o cd novamente assim que termina. Os temas, como o próprio título denota, são na maioria sacros. O álbum termina com a faixa Cayumba (Dança de Negros), de Carlos Gomes. Entre os instrumentos utilizados, destacam-se, além dos violinos tradicionais, rabecas, construídas especialmente para o projeto, e que dão uma característica especial à sonoridade do disco, fazendo imaginar como seriam os as missas e saraus do séc. XVIII.
Ao final do papo com o Sr. Decio, comentei da coincidência dele estar tratando justamente comigo, responsável pelas compras de cds da loja, e do interesse em ter o disco em nosso acervo, o que ele explicou que por enquanto não é possível. A primeira tiragem, de 10.000 exemplares, é distribuída gratuitamente, por ser um projeto patrocinado pela Petrobrás.
Haverá também concertos, que em breve serão anunciados no site do projeto.

Saiba mais no site http://www.mestresmulatos.com.br/
O e-mail para conseguir um exemplar do cd é deciocarraro@gmail.com

domingo, 25 de maio de 2008

Jonathan Crane passado a limpo

Há tempos não compro HQs mas esta semana uma novidade me chamou a atenção, e no fim das contas correspondeu muito bem às minhas expectativas. A edição nº 14 da revista Batman Extra traz na íntegra a história Espantalho: Ano Um, publicada nos E.U.A. em 2005. Os responsáveis pela minissérie de 100 páginas foram Bruce Jones (roteiro), Sean Murphy (arte), e Lee Loughridge (cores). O roteiro de Jones entrelaça os passados do Batman e do Espantalho conectando o que os dois têm em comum, um trauma de infância, para nos mostrar a origem do vilão. Tudo muito bem amparado pelo traço de Murphy (que me lembrou o de Chris Bachalo) e o colorido de Loughridge (destaque para o trabalho de distinção de flashbacks em relação ao tempo presente da história). A edição é precisa no quesito do encadeamento de narrativas, que chegam a ser três simultâneas em certos momentos. Os clichês típicos do Morcegão e do Menino Prodígio são devidamente explorados, mas sem exageros.
Mesmo com a grana curta, foram sete merréis bem gastos!

Bom domingo a todos!

sexta-feira, 23 de maio de 2008

A ascensão dos nerds na América moderna

Do New York Times

Por David Brooks
Tradução: George El Khouri Andolfato

Em 1950, o Dr. Seuss publicou um livro chamado "If I Ran the Zoo" (Se eu dirigisse o zoológico), que continha este trecho: "Eu navegaria para Ka-Troo, e traria um It-Kutch, um Preep, e um Proo, e também um Nerkle, um Nerd e um Seersucker!" Segundo o psicólogo David Anderegg, este deve ser o primeiro uso impresso da palavra "nerd" no inglês moderno. No ano seguinte, a "Newsweek" noticiou que "nerd" estava sendo usado em Detroit como substituto para "quadrado". Mas, como Anderegg escreve em seu livro, "Nerds", o termo só floresceria na consciência popular após Fonz usá-lo no seriado "Happy Days", em meados dos anos 70. E assim começou o que se poderia chamar de ascensão do nerdismo na América moderna.
Inicialmente, um nerd era um geek (ou pessoa muito hábil ou viciada em computadores ou tecnologia) com notas melhores. A palavra descrevia um pária colegial ou universitário que era perseguido pelos atletas, veteranos, membros de fraternidades e irmandades. Os nerds tinham seus próprios heróis (Stan Lee, o roteirista de histórias em quadrinhos), suas vocações próprias (Dungeons & Dragons), sua própria religião (fornecida por George Lucas e "Star Wars") e seus próprios conhecimentos (suporte técnico). Mas mesmo enquanto "A Vingança dos Nerds" despontava nas telas de cinema do país, uma versão diferente de reino nerd se infiltrava na cultura popular. Elvis Costello e David Byrne do Talking Heads popularizaram um estilo geek cool que levou a Moby, Weezer, Vampire Weekend e até mesmo ao auto-intitulado rock "nerdcore" e os geeksta rappers.
Os historiadores do futuro do predomínio nerd provavelmente notarão que a fase de conquista de poder teve início nos anos 80, com a ascensão da Microsoft e da economia digital. Os nerds começaram a ganhar grandes somas de dinheiro e adquiriram credibilidade econômica, a base para o prestígio social. A revolução da informação produziu um desfile de magnatas nerds
altamente confiantes -Bill Gates e Paul Allen, Larry Page e Sergey Brin e assim por diante.
Entre os adultos, as palavras "geek" e "nerd" trocaram de posição de status. Um nerd ainda era socialmente manchado, mas o reino geek adquiriu sua própria contracultura bacana. Um geek possuía uma certa paixão por conhecimento especializado, mas também um alto grau de consciência cultural e segurança que um nerd carecia.
Os geeks não apenas se rebelavam contra os atletas, mas se distinguiam dos párias alienados e autocomiserados que choravam com reconhecimento ao lerem "O Apanhador no Campo de Centeio". Se Holden Caulfield era o solitário sensível de uma era de opressão aos nerds, então Harry Potter foi o líder mágico na era da conquista do poder dos geeks.
Mas a maior mudança não foi o Vale do Silício em si. Em vez disso, a nova tecnologia criou uma série de playgrounds mentais onde os novos geeks podiam exibir seu capital cultural. O atleta pode brilhar no campo de futebol, mas os geeks podem exibir sua sensibilidade suave e emoções bem moduladas em suas páginas do Facebook, blogs, mensagens de texto e Twitter feeds. Agora
há exércitos de designers, pesquisadores, especialistas em mídia e outros produtores culturais com talento para autodepreciação bem-humorada, referências sociais obscuras e análises de fim de noite.
Eles podem visitar sites ecléticos como Kottke.org e Cool Hunting, experimentar com fontes, admirar Stewart Brand e Lawrence Lessig e ingressar em redes sociais com nomes irônicos. Eles criaram uma nova definição do que significa ser cool, uma definição que deixa de fora os talentos dos atletas, dos tipos MBA e os menos escolarizados. Em "The Laws of Cool", Alan Liu
escreve: "Cool é um feeling por informação". Quando alguém tem a habilidade, você sabe.
Tina Fey, que já foi capa da revista "Geek Monthly", despontou como símbolo de um geek que cresce e se transforma em um cisne. Agora há um estilo de moda cool geek, que pode ser encontrado em sites de compras por toda a Internet (pense em tênis japoneses e camisetas cheias de texto). A Schwinn agora faz uma bicicleta com aspecto retrô Sid/Nancy, que é doce e
desajeitada apesar de seu nome evocar falsa raiva. Atualmente há milhões de pessoas de alta escolaridade guiadas por modos geek e regras de status.
A notícia de que ser geek é bacana aparentemente não chegou aos colégios ou ao Partido Republicano. George Bush exerce um papel interessante na história da ascensão nerd. Com seu professo desdém por coisas intelectuais, ele energizou e alienou toda a legião geek, e com isso grande parte dos americanos com nível superior com menos de 30 anos. Agora militantes, os
geeks estão mais coerentes e ativos do que no passado.
Barack Obama se tornou o Príncipe Caspian das hordas de iPhone. Eles o homenageiam com vídeos e cartazes que combinam domínio estético com despudorada adulação de herói. As pessoas nos anos 50 costumava debater seriamente o papel do intelectual na política moderna, mas a figura de autoridade de Lionel Trilling foi removida pela classe de massa dos
produtores culturais escritores de blogs. Então, em um período relativamente curto de tempo, a estrutura social virou de cabeça para baixo. Pois como está escrito, os últimos serão os primeiros
e os geeks herdarão a terra.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

O absorvente no telhado

Domingo de sol, acordo e vou direto para a varanda. O Valdir, vizinho da casa ao lado, está subindo no telhado.

- Bom dia! Fazendo exercício logo cedo?
- Que nada. Recolhendo o lixo que o pessoal do
prédio joga no meu telhado.

Ele tira do bolso um saquinho de supermercado e coloca em volta da mão, para recolher, argh!, um absorvente, do tipo O.B., devidamente utilizado. Que vergonha. Como não tem prédio do outro lado da casa dele, só pode ser o pessoal daqui. Meus vizinhos. Alguém que cruza comigo no elevador. Será a dona Arminda do 62? Ela tem bem o jeitão de que no fundo vive assistindo aqueles vídeos de sadomasoquismo no Youtube. Sei lá, aqui no prédio tem de tudo. Até um apartamento cheio de estudantes universitárias que estão sempre dando festinhas. Enfim, não dá pra julgar, mas coitado do Valdir. Fico tão constrangido que me despeço e volto pra dentro de casa.
Esse negócio de jogar lixo pra tudo quanto é canto é um tanto polêmico, porque as pessoas o fazem com a maior naturalidade. Conheci um microempresário que, ao realizar entrevistas de contratação de pessoal para a sua empresa, perguntava se o sujeito era de jogar papel de bala na rua. É claro que todo mundo respondia que não, e aí ele julgava se o estavam enganando ou não. Nunca conseguiu segurar funcionário mais de um mês na empresa, porque quando acreditava nos bons costumes de um ou outro, algum tempo depois era surpreendido por uma mesa de trabalho toda emporcalhada, e acabava desmascarando e demitindo a figura. Não precisa ser exagerado assim, mas que a coisa incomoda, ah!, isso sim.
Uma vez, dentro de um ônibus, duas meninas voltavam da escola e uma delas desembrulhou a bala, pôs na boca, e jogou o papel pela janela. O vento desenhou para o pequeno detrito uma trajetória extraordinária, fazendo-o entrar no coletivo pela janela de trás e cair no colo de um velhinho, que ficou possesso. Um professor meu na faculdade dizia que o cúmulo do deleite da burguesia é buzinar dentro de túnel. E sabe que eu acho essa imagem perfeita! O desrespeito pela coisa pública é geral no Brasil, desde as escolas até os postes de luz, vejam vocês. É capaz de um cidadão (se é que podemos considerá-lo assim) que bate com o carro num poste e causa queda de energia elétrica em uma rua inteira, saia feliz da vida por não ter se machucado e por seu carro estar devidamente segurado. O poste e os moradores da rua que se lasquem! Lembro de certa noite, quando era adolescente, em que esperava ansiosamente o fim da novela das oito pois na Tela Quente seria exibido Indiana Jones e o Templo da Perdição (falando nisso, não vejo a hora de assistir ao novo Indy!) Não é que o moleque do décimo primeiro jogou um saco de água justo sobre um fio desencapado, causando a queda da energia no prédio e melando minha diversão da segunda-feira à noite!

Enfim, divaguei sobre lixo, descambei para apagão, dá até pra parodiar Macunaíma. Muito lixo e pouca energia, os males do Brasil são!!!! E por falar em segunda feira, mais uma semana se inicia, é dia de branco outra vez. Na mesma varanda de ontem tomo meu café, porém devidamente paramentado, de paletó e gravata, não mais de chinelo e em mangas de camisa. Vejo o Valdir saindo de casa para mais um dia de labuta. Lembro mais uma vez do incidente desconcertante de ontem. Ih! O cara acabou de colocar uma bala na boca. E jogou o papel na calçada...

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Livreiro Edson Grimello inicia carreira de comediante!

Há mais de 10 anos Edson Grimello compõe a equipe da Livraria Cultura do Conjunto Nacional. Notório sobretudo entre os clientes que buscam livros da área técnica, Grimello tem um hobby que mais pode ser considerado um dom. Sua capacidade de captar situações bizarras do cotidiano é notável, e tão natural que muitas vezes ele nem se da conta. Incentivado por mim e pela nossa colega Fernanda Baggio, que identificou nas reflexões dele uma aptidão para os sketches da stand-up comedy, Grimello pôs no papel uma cena que presenciou recentemente, por meios visuais, auditivos, e quem sabe até oufativos, infelizmente. É com grande alegria que recebo o mais novo comediante do Brasil como meu convidado especial neste post. Já é certa a criação de um blog próprio, onde com certeza muitas outras histórias serão contadas. A mídia, que adora estereotipar, já fala num Jerry Seinfeld brasileiro. Divirtam-se e tirem suas próprias conclusões!

"Jaws: qual o ônus de quem perde o tônus no ânus

Estava hoje em um local movimentado quando fui surpreendido por um som alto e estranho, parecendo o tema do filme Tubarão, só que molhado. Olhei do lado e havia um senhor de aproximadamente 70 anos de idade peidando! Cronometrei aproximadamente 15 segundos (uma eternidade em termos de peido). Após o espetáculo escatológico, comecei a divagar e me fiz a seguinte pergunta: quando envelhecemos, será que além da perda do tônus muscular, neste caso localizado, perdemos também os modos em público? Ou seja, estaremos literalmente cagando e andando para o que os outros pensam de nós?"
por Edson Grimello

Os Planetas: o que seria das trilhas de ficção, fantasia e aventura sem Gustav Holst?

Difícil imaginar a seqüência inicial de Star Wars – Uma Nova Esperança sem a vigorosa trilha de John Willians? Nem tanto. Sem desmerecer o fiel escudeiro musical de George Lucas. Muito tempo antes da estréia da trilogia que nos apresentou Darth Vader, a obra que definiria tendências e influenciaria os processos de criação dos compositores das trilhas sonoras dos grandes sucessos cinematográficos de ficção, fantasia e aventura, já estava pronta. Trata-se da suíte Os Planetas, de Gustav Holst. Nascido em 1874 na Inglaterra, Holst compôs Os Planetas entre 1914 e 1916, influenciado pela astrologia e a associação com divindades segundo a tradição clássica romana, o que obviamente excluiu a Terra da obra. Plutão também ficou de fora, pois ainda não fora descoberto. Dessa forma, a suíte é composta por sete movimentos, compreendendo Marte, Vênus, Mercúrio, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Conheçamos cada um deles.
Marte, o que traz a guerra: não há como não lembrar da já citada seqüência inicial de Star Wars – Uma Nova Esperança. Uma marcha triunfal e ameaçadora que caberia como uma luva no ataque do Star Destroyer Imperial à Tantive IV. Até o tempo das peças de Holst e John Williams é quase o mesmo, cerca de sete minutos de duração; Vênus, o que traz a paz: na segunda parte da obra o tom é solene e tranqüilizador, nos remetendo à sabedoria do Mestre Yoda, à determinação e à segurança da Princesa Leia, mas sobretudo à clássica cena em que Luke Skywalker olha os dois sóis de Tatooine e reflete sobre sua condição; em Mercúrio, o Mensageiro Alado, o tom é lúdico e com certeza caberia nos grandes clássicos Disney com princesas, nos momentos grandiosos ou até mesmo nos mais cômicos; ao ouvirmos Júpiter, o que traz a alegria, a sensação é de que falta ali apenas a frase “Space, the final frontier”, tamanha a aproximação com a criação de Jerry Goldsmith para Jornada nas Estrelas; Saturno, o que remete aos Tempos Antigos, movimento favorito de Holst, nos leva a paisagens desoladoras e soturnas, como as de David Lynch na adaptação cinematográfica de Duna; Urano, o Mágico, é uma dança macabra mas inofensiva, e o destaque para os fagotes nos remete ao bizarro de muitos filmes B; finalizando a obra, é impossível não lembrar da comitiva do Anel chegando a Lothlórien ao ouvirmos Netuno, o Místico, em virtude de uma atmosfera de mistério e contemplação e de um coro feminino dignos dos povos élficos. A primeira apresentação de Os Planetas aconteceu em setembro de 1918, e dois anos após essa execução Holst mostrou interesse em conduzir ele próprio a suíte, regendo uma orquestra formada só por músicos que gravavam para o cinema. Por mais que o compositor lamentasse que a notoriedade da obra acabou ofuscando a projeção que gostaria que suas outras composições tivessem, Holst tinha idéia da forte relação de sua obra com as composições para o cinema a partir de então. Eis uma obra que fãs do cinema em geral, mas sobretudo os amantes de aventura, ficção científica e fantasia não podem deixar de conhecer.
Apesar de Plutão ter sido descoberto nos idos de 1930, quando Holst ainda vivia, o compositor optou por deixar a obra como compusera inicialmente. No ano de 2000, no entanto, a Hallé Orchestra incumbiu o compositor Colin Matthews, especialista em Holst, de compor o oitavo movimento, dedicado a Plutão. O movimento foi intitulado Plutão, o Renovador, e foi dedicado à filha de Holst, Imogen. Matthews realizou uma pequena alteração ao final de Netuno, transformando-o em uma transição para o início de Plutão. A primeira performance incluindo o novo movimento aconteceu em 11 de maio de 2000, quando a Hallé Orchestra foi conduzida pelo maestro Kent Nagano.

sábado, 17 de maio de 2008

O polêmico videoclipe do Justice

O videoclipe Stress, da dupla de música eletrônica Justice, está causando polêmica em todo o mundo. O vídeo já rendeu mais de 1 milhão de acessos no Youtube e sites similares, e todo o rebuliço gira em torno de questões sobre violência e racismo. Como o Justice esteve na última quinta no festival de Cannes, a notícia está na capa do Caderno 2 de ontem. Resumindo, o que vemos são imagens de uma gangue de jovens que praticam atos de violência e vandalismo gratuitos pelas ruas de Paris durante sete minutos sem parar. Digo gratuitos pois não há indícios de motivação sugeridos no filme (o clipe começa com a gangue reunida indo na direção de um prédio do subúrbio da cidade). O Estadão colheu depoimentos não só dos músicos e do diretor do clipe, Romain Gavras (filho do diretor de Z e O Quarto Poder), como de outras personalidades de áreas distintas. O filósofo espanhol Eduardo Subirats, por exemplo, vê preconceito e segregação nas imagens, pelo fato da gangue ser formada por garotos negros e outros com fisionomia que sugere filhos de imigrantes. Já Romain Gavras reage à controvérsia: "Por que denunciar os artistas que denunciam a violência?" O artista plástico Yuri Firmeza questiona o alarde em torno de Stress em sociedades como a brasileira, que se envolve profundamente na espetacularização da violência e reage de forma tão doentia a situações como o assassinato de Isabella Nardoni. Stress já foi carimbado pela mídia com o rótulo de "Laranja Mecânica do Terceiro Milênio." Exageros à parte, teve gente que até passou mal quando viu o clipe. E você? O que acha?

Assista a Stress clicando aqui e opine através da enquete ao lado.
A matéria do Estado você lê aqui. O texto é de Jotabê Medeiros.

Jornalismo Cultural sem melindres nem rabo preso

Ganhei de aniversário da minha amiga Renata Smocowski o livro As Penas do Ofício, do jornalista Sérgio Augusto. Não perco os artigos dominicais dele no caderno Aliás, do Estado de São Paulo. Aos sábados, eventualmente, ele também escreve no jornal, textos mais longos e também excelentes. É meu jornalista favorito, pelo conhecimento que tem e demonstra, sem a soberba com a qual tantos pseudo-críticos desfilam nos jornais de todo o país. E olha que ele passou por um monte de veículos bacanas: Pasquim, Opinião, Bundas, Jornal do Brasil, Folha de São Paulo. O livro, lançado em 2006, é uma coletânea com algumas de suas contribuições na revista Bravo!, entre 2001 e 2005. Li apenas os quatro primeiros textos, todos muito bons. Destaco Assim Rasteja a Humanidade (2002), em que o jornalista lembra que na Bienal do Livro do ano anterior àquele em que escreve, paparazzis se acotovelavam para clicar os globais que chegavam ao Parque Lage, enquanto escritores, os verdadeiros donos da festa, mal eram percebidos. Sérgio Augusto sabe dosar acidez em uma crítica contundente da contemporaneidade, e transita com uma desenvoltura que realmente admiro, sobre política, Internet, televisão, futebol, cinema... São quarenta e cinco artigos no total, e uma olhadinha no índice remissivo já da a maior curiosidade de ler o livro numa tacada só.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Kafka Show: insetos gigantes processados em forma de música

Depois de uma luta com Mozilla e Internet Explorer, que se degladiam pela minha preferência tanto quanto a Globo e a Record disputam o povão televisão, eis que consigo publicar o post de hoje.
Apresento-lhes então o Kafka Show, grupo do meu camarada José Augusto Barrichello, lá da Cásper. Os caras vão tocar na Saraiva do Shopping Morumbi, no próximo sábado, 17/05, às 19:30, e estou achando que vão botar aquele espaço de pernas para o ar. Pode processar, (o que é muito oportuno em se tratando de Kafka!!!), new wave, eletrônico, guitarras barulhentas porém melódicas, letras e vocais honestos e coerentes com a forma sonora, e talvez o mais importante, artistas que não fazem a música por fazer, mas pensam-na, pelo menos pelo que conheço do Barrichello, que prepara algo sobre música para sua monografia lá na pós-graduação. Eis aí um perfil sucinto da banda. Olhar para o próprio trabalho faz toda a diferneça na música atual, pasteurizada por emos, retrôs fakes, enfim, essa perdição toda que assola o rock "independente" na contemporaneidade. As gravadoras ditas independentes não passam de microcosmos das majors, o que é triste mas previsível, quando entra em ação o Mefistófeles Fonográfico!
Parabéns ao Kafka Show por fazer diferença!
Não sei se poderei comparecer no sábado, mas façam uma esbórnia naquele espaço todo organizadinho!!!!
Para os que se interessarem, as faixas Em Paz e Quem estão no myspace,
http://www.myspace.com/kfkshw
O show tem entrada franca.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

As Raízes do Zeppelin

Os cds encartados na revista Mojo são sempre muito legais. Esta semana não paro de ouvir The Roots of Led Zeppelin, coletânea que acompanhou a edição de Agosto de 2004. Conforme as palavras de Phil Alexander, então editor-chefe da revista, a química do grupo era resultado de uma vasta gama de influências trazidas por quatro personalidades musicais distintas. Foi um pouco disso que a Mojo quis mostrar confeccionando essa coletânea, que visita sobretudo o blues e o folk, mas contempla também o rock n' roll clássico, a soul music e o surf rock instrumental. Summertime, de George Gershwin, pode se aproximar do clima de Dazed and Confused? Com Santo & Johnny sim. Não poderia faltar Killing Floor, com Howlin' Wolf, que o Zep rearranjou como Lemon Song e Hendrix também gravou. Por falar em Howlin' Wolf, sempre achei que o estilo de Robert Plant deve muito à voz rasgada do bluesman. Entre outros blues obrigatórios, a voz de Joan Baez representa bem o folk, e Garnet Mimms faz as honras da soul music. Como a edição é de 2004 e o cd não é vendido comercialmente, é difícil vocês encontrarem. No entanto, o encarte descreve de onde foi tirada cada faixa. Reproduzo essas referências a seguir, para quem se interessar:

1. Long Tall Sally
Autores: Johnson/Penniman, Blackwell
Intérprete: Little Richard
CD: 22 Classic Cuts

2. As Long as I have you
Autores: Elgin/Ragovoy
Intérprete: Garnet Mimms
CD: Talcum Soul - 26 Stronking Northern Soul

3. Travelling Riverside Blues
Autor: Robert Johnson
Intérprete: Robert Johnson
CD: Martin Scorsese Presents The Blues: Robert Johnson

4. Shake'em on down
Autor: Bukka White
Intérprete: Bukka White
CD: The Complete Bukka White

5. Summertime
Autor: George, G/Heyward
Intérprete: Santo & Johnny
CD: The Best of...

6. Blackwater Side
Autor: Bert Jansch
Intérprete: Bert Jansch
CD: An Introduction to Bert Jansch

7. Nobody's fault but mine
Autor: John Renbourn
Intérprete: John Renbourn
CD: Another Monday

8. Fresh Garbage
Autor: J. Freguson
Intérprete: Spirit
CD: Mojo Presents... Spirit

9. You Need Love
Autor: Willie Dixon
Intérprete: Muddy Waters
CD: Muddy Waters - The Best 1956-1964 - The Chess 50th Anniversary Collection

10. Killing Floor
Autor: Chester Burnett
Intérprete: Howlin' Wolf
CD: The Howlin' Wolf Collection

11. In my time of dying (Jesus make up my dying bed)
Autor: Johnson
Intérprete: Blind Willie Johnson
CD: The Complete...

12. She moved thru the bizarre/blue ragga
Autor: Padraic Colum
Intérprete: Davey Graham
CD: After Hours at Hull University, 4th February 1967

13. Babe, I'm gonna leave you
Autor: Anne L. Bredon
Intérprete: Joan Baez
CD: Joan Baez In Concert

14. Dance of the inhabitants of the palace of King Philip XIV of Spain
Autor: John Fahey
Intérprete: John Fahey
CD: The Best of John Fahey 1956-1977

15. She Likes it
Autor: Owen Hand
Intérprete: Owen Hand
CD: Footprints In The Snow/Various Artists'

terça-feira, 13 de maio de 2008

Brasil comemora 100 anos do criador de James Bond

O escritor inglês Ian Fleming, criador de James Bond, faria 100 anos em maio de 2008. Para celebrar a data, será realizada, no dia 31 de maio, a partir das 14 horas, na Livraria Cultura Villa Lobos (Avenida Nações Unidas – São Paulo) o 1º Evento Oficial de James Bond, no Brasil – CON007. A organização é da Comunidade 007 Brasil – A comunidade oficial brasileira de James Bond, com apoio da Editora Record, Livraria Cultura e da Fox Film do Brasil.

Na oportunidade, a Editora Record vai anunciar o lançamento, no Brasil, do livro “A Essência do Mal” (Devil May Care), a nova aventura de James Bond, escrito por Sebastian Faulks, escolhido oficialmente pela Ian Fleming Publications Ltd..

Mais informações:
http://comunidade007brasil.com/



sábado, 10 de maio de 2008

Xiita globalizado

"Um curupira já tem seu tênis importado"
(Enquanto o Mundo Explode, Chico Science)

Na capa do caderno de notícias internacionais do Estado de São Paulo de hoje, duas fotos ilustravam a manchete. O Hezbollah pretende "trazer a Síria de volta ao Líbano e estender o alcance do Irã ao Mediterrâneo", conforme comunicado lido pelo líder cristão Samir Geagea. Para tanto, ontem tomaram o controle do lado oeste de Beirute e expulsaram dali seus opositores, leais ao governo do primeiro-ministro Fuad Siniora. Na primeira foto, um militante do grupo ataca a sede da rede de TV Futuro, propriedade do líder governista Saad Hariri. Na segunda, outro rebelde ajeita uma foto do presidente sírio num escritório do partido de Hariri, em Beirute. Me chamou a atenção o calçado do segundo fotografado, no qual lê-se Adidas em letras garrafais. Se o atual governo do Líbano é pró-EUA, teríamos aí uma contradição globalizada?
Não vou entrar no mérito das motivações para o conflito entre os dois lados, mas que a cena é um paradoxo é. Paranóia idealista da minha parte? Pode ser. Principalmente para os filósofos do fim da história, que já somam centenas no mundo todo. Para quem quiser aprofundar a discussão, dois autores, um americano outro brasileiro, abordam a globalização sob perspectivas interessantes, e lembrei deles no ato em que vi a foto. O brasileiro Octavio Ianni, em seu A Era do Globalismo (primeira edição de 1996, Civilização Brasileira), aborda a questão do global x local no suposto mundo sem fronteiras da globalização. Já o americano Benjamim Barber, em Jihad X McMundo, nos mostra as consequências sociais e culturais dessa nova configuração do global. Nas edições pós 2001, Barber acrescentou um prefácio considerando o 11/09.
Mesmo que o propósito central do conflito não seja a dominação cultural americana, considero a imagem sintomática para pensarmos quem está por trás dos capuzes do Hezbollah e de outros grupos radicais. Me lembrei da cena final de Os Sonhadores, de Bernardo Bertolucci. Quem é de fato a juventude que faz número nas revoluções? Culturalmente, as revoluções de hoje vão de fato surtir algum efeito contra a hegemonia do tal McMundo?

Semana "Satchmo"

Não bastasse a coletânea de Louis Armstrong que mencionei no post anterior, esta semana reencontrei virtualmente meu amigo carioca Osvaldo Lopes Jr., e navegando por sua página pessoal encontrei um texto sobre o disco Louis Armstrong meets Oscar Peterson, que também tenho e imediatamente coloquei na vitrola (isso mesmo, vitrola!) para ouvir. Sublime beleza! E no momento escrevo porque me lembrei e estou ouvindo mais um disco excelente, dessa vez em cd mesmo:Doc Cheatham & Nicholas Payton (Verve, 1997). Dois trompetistas de gerações distantes se reuniram neste disco para homenagear Satch. Doc Cheatham, que faleceu no mesmo ano do lançamento do cd, com 91 anos, foi, além de trompetista, bandleader e cantor, e é o responsável pelos vocais do álbum. Como os bons vinhos, Cheatham é considerado pela crítica especializada como um dos poucos jazzistas que produziu seus trabalhos mais significativos depois dos 70 anos. Nicholas Payton tinha apenas 23 anos quando gravou o disco. É da geração dos Marsalis, Christian McBride, Marcus Roberts. Seu estilo não é tão "hot" quanto o de Armstrong, mas há proximidades entre os dois, sem dúvida alguma. E Payton é afeito aos discos-tributo. Em 2001, também pela Verve, revisitou Armstrong em Dear Louis. Doc e Nic escolheram baladas e swings que fizeram história na voz e no sopro do embaixador do jazz, como How Deep is the ocean? e Jeepers Creepers, Maybe e She's Funny That Way. A gravação, ao vivo no estúdio, é excelente, e faz pensar como seriam gravações de Armstrong com os recursos técnicos de hoje. O trio que acompanha a dupla é de primeira, e cumpre seu papel sem excessos e muita precisão: Butch Thompson ao piano, Bill Huntington no baixo, e Ernie Elly à bateria. Ainda sobre a gravação, uma curiosidade interessantíssima merece menção: o trompete de Payton está sempre no canal esquerdo e o de Cheatham no direito. Experimente audição com fones, sensacional! Principalmente quando os dois tocam ao mesmo tempo!

Tenham todos um ótimo sábado.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Louis Armstrong - Originals

Acabo de comprar esse cd aí da foto, Louis Armstrong - Originals, uma coletânea excelente e baratíssima, R$ 13,90. Do Satch eu só tinha o disco com o trio do Oscar Peterson (em vinil), que é excelente mas contempla um repertório diferente do imortalizado por ele. Esta coletânea, além de aliar boas gravações e preço convidativo (apesar de não informar o ano das gravações e seus álbuns originais), contém alguns dos standards que os pesos pesados do jazz e da canção americana gravaram, e as interpretações de Armstrong são excepcionais. Minhas prediletas são Mack the Knife, que abre o cd, La Vie en Rose, Dream a Little Dream of Me (com Ella), C'est Si Bon, e Ain't Misbehavin', mas o disco todo vale à pena. E aí vai um detalhe importante: a maior parte das coletâneas do artista que trazem as gravações de sua fase áurea, não contém What a Wonderful World, canção que obviamente as pessoas sempre procuram e só encontram em discos de baladas românticas com vários artistas ou do próprio Armstrong. O CD contém a música, o que considero uma boa oportunidade para esse público que não conhece nada dele senão What a Wonderful World conhecer melhor um dos artistas mais importantes do século XX. A iniciativa é da Music Brokers, gravadora argentina que iniciou atividades no Brasil no final do ano passado e vive de coletâneas. Licencia as faixas e monta suas próprias compilações. Deve-se considerar o problema de descaracterização do álbum original? Com certeza. Mas ao menos a Music Brokers trabalha com gravações de qualidade e cds baratos (formatos simples por R$ 13,90 e triplos por 39,90). As coletâneas vão salvar o mercado? Não. Mas com certeza uma parcela desacreditada dos consumidores de discos pode migrar de volta, o que nos tempos de i-pods e downloads já é uma vitória e um motivo de alegria para quem, como eu, gosta e faz questão de ter discos originais.

sábado, 3 de maio de 2008

10 Videoclipes Arrasadores, por Arlindo Machado

Em busca de referências para minha monografia, encontrei no livro A Televisão Levada a Sério, de Arlindo Machado, um referencial bacana sobre a linguagem do videoclipe. No final do do capítulo sobre o assunto, Machado elenca 10 videoclipes que considera "arrasadores", em termos estéticos.
Tendo uma oportunidade de ler o capítulo e olhar a lista, façam, vale à pena. Entre os 10 estão Drive, do R.E.M, People of The Sun, do Rage Against The Machine, e O Silêncio, de Arnaldo Antunes.
Na minha monografia, que trata da MTV e o uso de comunidades de relacionamento no Orkut, o foco é mais crítico, partindo sobretudo do conceito de Indústria Cultural de Adorno e Horkheimer e do Marketing do Cool de Naomi Klein. No entanto, o material do livro pode servir a múltiplos propósitos.