quarta-feira, 21 de maio de 2008

Os Planetas: o que seria das trilhas de ficção, fantasia e aventura sem Gustav Holst?

Difícil imaginar a seqüência inicial de Star Wars – Uma Nova Esperança sem a vigorosa trilha de John Willians? Nem tanto. Sem desmerecer o fiel escudeiro musical de George Lucas. Muito tempo antes da estréia da trilogia que nos apresentou Darth Vader, a obra que definiria tendências e influenciaria os processos de criação dos compositores das trilhas sonoras dos grandes sucessos cinematográficos de ficção, fantasia e aventura, já estava pronta. Trata-se da suíte Os Planetas, de Gustav Holst. Nascido em 1874 na Inglaterra, Holst compôs Os Planetas entre 1914 e 1916, influenciado pela astrologia e a associação com divindades segundo a tradição clássica romana, o que obviamente excluiu a Terra da obra. Plutão também ficou de fora, pois ainda não fora descoberto. Dessa forma, a suíte é composta por sete movimentos, compreendendo Marte, Vênus, Mercúrio, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Conheçamos cada um deles.
Marte, o que traz a guerra: não há como não lembrar da já citada seqüência inicial de Star Wars – Uma Nova Esperança. Uma marcha triunfal e ameaçadora que caberia como uma luva no ataque do Star Destroyer Imperial à Tantive IV. Até o tempo das peças de Holst e John Williams é quase o mesmo, cerca de sete minutos de duração; Vênus, o que traz a paz: na segunda parte da obra o tom é solene e tranqüilizador, nos remetendo à sabedoria do Mestre Yoda, à determinação e à segurança da Princesa Leia, mas sobretudo à clássica cena em que Luke Skywalker olha os dois sóis de Tatooine e reflete sobre sua condição; em Mercúrio, o Mensageiro Alado, o tom é lúdico e com certeza caberia nos grandes clássicos Disney com princesas, nos momentos grandiosos ou até mesmo nos mais cômicos; ao ouvirmos Júpiter, o que traz a alegria, a sensação é de que falta ali apenas a frase “Space, the final frontier”, tamanha a aproximação com a criação de Jerry Goldsmith para Jornada nas Estrelas; Saturno, o que remete aos Tempos Antigos, movimento favorito de Holst, nos leva a paisagens desoladoras e soturnas, como as de David Lynch na adaptação cinematográfica de Duna; Urano, o Mágico, é uma dança macabra mas inofensiva, e o destaque para os fagotes nos remete ao bizarro de muitos filmes B; finalizando a obra, é impossível não lembrar da comitiva do Anel chegando a Lothlórien ao ouvirmos Netuno, o Místico, em virtude de uma atmosfera de mistério e contemplação e de um coro feminino dignos dos povos élficos. A primeira apresentação de Os Planetas aconteceu em setembro de 1918, e dois anos após essa execução Holst mostrou interesse em conduzir ele próprio a suíte, regendo uma orquestra formada só por músicos que gravavam para o cinema. Por mais que o compositor lamentasse que a notoriedade da obra acabou ofuscando a projeção que gostaria que suas outras composições tivessem, Holst tinha idéia da forte relação de sua obra com as composições para o cinema a partir de então. Eis uma obra que fãs do cinema em geral, mas sobretudo os amantes de aventura, ficção científica e fantasia não podem deixar de conhecer.
Apesar de Plutão ter sido descoberto nos idos de 1930, quando Holst ainda vivia, o compositor optou por deixar a obra como compusera inicialmente. No ano de 2000, no entanto, a Hallé Orchestra incumbiu o compositor Colin Matthews, especialista em Holst, de compor o oitavo movimento, dedicado a Plutão. O movimento foi intitulado Plutão, o Renovador, e foi dedicado à filha de Holst, Imogen. Matthews realizou uma pequena alteração ao final de Netuno, transformando-o em uma transição para o início de Plutão. A primeira performance incluindo o novo movimento aconteceu em 11 de maio de 2000, quando a Hallé Orchestra foi conduzida pelo maestro Kent Nagano.

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