quinta-feira, 25 de março de 2010

Saudações (1968) - Robert de Niro e Brian de Palma

Uns dias atrás assisti Saudações (Greetings, 1968), estreia de Robert de Niro e Brian de Palma no cinema. Despretensioso e divertido, Saudações mostra a rotina de três amigos: o cineasta amador John Rubin (de Niro), o apaixonado Paul Shaw (Jonathan Warden) e o conspiratório Lloyd Clay (Gerrit Grahan). O dia a dia do trio é o mote para sátiras ao amor livre, a Guerra do Vietnã e ao assassinato de Kennedy. Mesmo estreando, de Palma realiza algumas boas sacadas visuais, como por exemplo a cena em que Paul Shaw chega em casa e transa com a namorada em uma cena que inicialmente é captada pela perspectiva dos pés do casal.
Todo esse contexto teria muito menos graça não fosse uma trilha sonora extraordinária. A autoria é de Eric Kaz, popular por sua participação no grupo Blues Magoos. Na trilha de Saudações, no entanto, Kaz está com seu grupo folk/psicodélico The Children of Paradise. Depois de uns dias pelejando para achar referências na internet, descobri que há um disco intitulado Greetings, The Children of Paradise, do grupo Bear, do qual Kaz também fez parte, tocando as músicas do filme, mas é impossível achar para comprar. No filme tocam apenas três canções: "Greetings", "So loose & So Slow" e "Like Cats".
Saudações foi lançado em DVD no Brasil no ano passado, pela Lume Filmes, novo selo que vem fazendo um trabalho muito interessante no resgate de filmes raros, cult, muitos deles fundamentais em qualquer boa cinemateca.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Ilha do Medo - Martin Scorsese

Mais uma vez Martin Scorsese escolheu uma boa história para filmar. Seu Ilha do Medo, que estreou nos cinemas brasileiros na semana passada, é baseado no romance policial de Dennis Lehane, que já emprestara argumento para Clint Eastwood filmar Sobre Meninos e Lobos em 2003. Lehane se destaca no gênero, não é à toa que grandes diretores se interessam por seu trabalho.
Ilha do Medo é uma história passada em 1954. Dois investigadores da polícia federal americana viajam até a Ilha Shutter, que abriga o Hospital Psiquiátrico Ashecliffe, para apurar o desaparecimento de um dos internos da instituição. À medida que a investigação transcorre, o detetive Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio), protagonista da história, sente crescer o tormento pela morte de sua esposa, que nunca superou. Para intensificar seu estado de tensão, a diretoria do Hospital se recusa a fornecer as provas que Daniels julga necessárias para apurar o caso. Suspeitas de tratamentos nada antiéticos, envolvendo por exemplo lobotomia, fazem Daniels cada vez mais obsessivo em descobrir a verdade.
Suspense definitivamente não é minha praia, salvo os clássicos de Hitchcoch e um ou outro filme interessante, como o Vestida para Matar de Michael Caine. Ilha do Medo, no entanto, me agradou muito, e facilmente vai virar referência no gênero, não só pela boa história mas pela forma como se conta. Como grande conhecedor de filmes que é, Scorsese presta grande homenagem ao cinema clássico ao cuidar do seu novo filme. Figurinos e locações são impecáveis e o elenco interage muito bem. Mark Ruffalo está preciso como Chuck Aule, parceiro de Daniels, e Ben Kingsley foi extraordinário ao viver o Dr. Cawley, um dos diretores do presídio. DiCaprio também está muito bem.
No tratamento da imagem Scorsese usou algum recurso para criar um céu, sempre nublado, que faz referência aos filmes do período, no qual muitas cenas externas eram filmadas em estúdio e posteriormente se colocava um efeito ao fundo com as limitações técnicas de então. Robbie Robertson (sim, o guitarrista do The Band) foi o produtor musical responsável pela trilha sonora. Ele juntou com precisão grandes nomes da música erudita contemporânea, como John Adams e John Cage, com Brain Eno, Kay Starr, Gustav Mahler e Krzysztof Penderecki. O resultado foi um pano de fundo musical de beleza densa, que não se resume a uma simples cópia dos temas de Bernard Hermann.
Ilha do Medo é um filme especial por conta da mão experiente do diretor. Filme que da gosto de ver, detalhadamente pensado e executado por Scorsese.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Valleys of Neptune: Jimi Hendrix

Enfim, segunda-feira foi o lançamento de Valleys of Neptune, álbum de Jimi Hendrix contendo 12 gravações inéditas, a maior parte oriunda das suas últimas sessões com o grupo Experience. Eu já tinha escrito por aqui e reafirmo: com Hendrix não tem decepção. O disco é sensacional, principalmente pelo tratamento que o engenheiro de som Eddie Kramer, que trabalhou com Hendrix na época, conseguiu dar às faixas. Tanto as vozes quanto as guitarras estão mais presentes, e a bateria é um caso à parte, tanto pelo tratamento quanto pelas execuções de Mitch Mitchell nas sessões.
As gravações datam de 1969 (só uma é de 1967), quando Hendrix trabalhava incessantemente em novas composições e se via num grande momento criativo, mas em contrapartida se desentendia cada vez mais com o baixista Noel Redding. Um dos motivos mais marcantes dos atritos é o fato de Noel não entender por que Hendrix queria fazer tantos takes diferentes para uma única música se o Experience funcionara tão bem até então gravando em um take só. Não demorou muito e Billy Cox substituiu Redding, e inclusive a gravação da faixa título, entre outras, já aconteceu com o novo baixista.
"Hear my train a comin" aparece no repertório em seu primeiro registro com o Experience; "Sunshine of your love", do Cream, consta em versão instrumental, como Experience costumava tocar em seus shows; uma versão mais rápida de "Fire" também está entre as canções, e é um dos destaques do disco.
A maior parte das gravações vem de duas sessões: a primeira em 16/02/69, no Olympic Studio, em Londres, e a outra em 07/04/69, no Record Plant, nos EUA. O link sobre o disco no Wikipedia está bem completinho e detalhado para quem quiser saber mais detalhes sobre as gravações.
A edição brasileira está caprichada, com encarte e embalagem digipack, e o preço é bem camarada, R$ 24,90 em média.
Entre as esquisitices do rock atual é bom ver e ouvir que alguns medalhões nunca perdem o poder, e podem eventualmente nos surpreender com algum tesouro até então escondido. Este ano com certeza se falará muito em Hendrix, em virtude dos 40 anos de sua morte. A Sony/BMG, que lançou Valleys of Neptune, relançou também Band of Gypsys e promete um bom trabalho com o restante da discografia do guitarrista.