Mais uma vez Martin Scorsese escolheu uma boa história para filmar. Seu Ilha do Medo, que estreou nos cinemas brasileiros na semana passada, é baseado no romance policial de Dennis Lehane, que já emprestara argumento para Clint Eastwood filmar Sobre Meninos e Lobos em 2003. Lehane se destaca no gênero, não é à toa que grandes diretores se interessam por seu trabalho.
Ilha do Medo é uma história passada em 1954. Dois investigadores da polícia federal americana viajam até a Ilha Shutter, que abriga o Hospital Psiquiátrico Ashecliffe, para apurar o desaparecimento de um dos internos da instituição. À medida que a investigação transcorre, o detetive Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio), protagonista da história, sente crescer o tormento pela morte de sua esposa, que nunca superou. Para intensificar seu estado de tensão, a diretoria do Hospital se recusa a fornecer as provas que Daniels julga necessárias para apurar o caso. Suspeitas de tratamentos nada antiéticos, envolvendo por exemplo lobotomia, fazem Daniels cada vez mais obsessivo em descobrir a verdade.
Suspense definitivamente não é minha praia, salvo os clássicos de Hitchcoch e um ou outro filme interessante, como o Vestida para Matar de Michael Caine. Ilha do Medo, no entanto, me agradou muito, e facilmente vai virar referência no gênero, não só pela boa história mas pela forma como se conta. Como grande conhecedor de filmes que é, Scorsese presta grande homenagem ao cinema clássico ao cuidar do seu novo filme. Figurinos e locações são impecáveis e o elenco interage muito bem. Mark Ruffalo está preciso como Chuck Aule, parceiro de Daniels, e Ben Kingsley foi extraordinário ao viver o Dr. Cawley, um dos diretores do presídio. DiCaprio também está muito bem.
No tratamento da imagem Scorsese usou algum recurso para criar um céu, sempre nublado, que faz referência aos filmes do período, no qual muitas cenas externas eram filmadas em estúdio e posteriormente se colocava um efeito ao fundo com as limitações técnicas de então. Robbie Robertson (sim, o guitarrista do The Band) foi o produtor musical responsável pela trilha sonora. Ele juntou com precisão grandes nomes da música erudita contemporânea, como John Adams e John Cage, com Brain Eno, Kay Starr, Gustav Mahler e Krzysztof Penderecki. O resultado foi um pano de fundo musical de beleza densa, que não se resume a uma simples cópia dos temas de Bernard Hermann.
Ilha do Medo é um filme especial por conta da mão experiente do diretor. Filme que da gosto de ver, detalhadamente pensado e executado por Scorsese.
Nenhum comentário:
Postar um comentário