domingo, 8 de junho de 2008

Sala de Espera

Sábado de manhã, acompanho minha mulher até um laboratório para alguns exames.
Na sala de espera, abro meu jornal, ritual diário que tem sabor especial aos sábados e domingos, quando a pressa é menor. Passo o olho sobre as notícias sobre o caso Dilma Rousseff/Varig. Marcelo Rubens Paiva homenageia Austregésilo Carrano Bueno, morto em 27 de maio, e comenta a pirataria de filmes e música na web. Meu deleite é tamanho em folhear o periódico, sujar as mãos de tinta, que mal percebo um sujeito chegar e se sentar na cadeira ao lado. Entre nós, apenas uma mesinha, onde eu tinha deixado o resto do jornal. Qual não foi minha surpresa quando o cidadão, um gordinho careca aparentando seus cinquenta e poucos anos, escolhe entre os cadernos do meu jornal algo para ler. Acabou ficando com o de Economia.
Ok, ele não imagina que o jornal é meu. Salas de espera sempre tem revistas e jornais para passar o tempo. Não faço menção alguma sobre minha propriedade, afinal de contas, que mal há em deixar o cara ler, inclusive um caderno que não me interessa muito? Volto a me concentrar na leitura, mesmo com a televisão no último volume, sintonizada no programa da Xuxa. Quem diabos escolheu o programa da Xuxa em um laboratório onde só vão mulheres adultas e seus acompanhantes? Enfim, vamos às notícias internacionais. Obama é o candidato dos Democratas.
Dali uns 5 minutos, entra na sala um casal jovem, a moça grávida, e o rapaz, com pinta de fanático por futebol, tem cara de que perderia até o parto do filho pra ver final de campeonato. Ávido por notícias do mundo futebolístico, antes mesmo de sentar busca o caderno de Esportes entre os vários do meu jornal. Mais uma vez não digo nada, continuo lendo e ouvindo a voz irritante da Xuxa.
Em pouco tempo, uns 15 ou 20 minutos depois de minha mulher seguir para a sala dos exames, meu jornal já está todo espalhado, restando a mim somente o caderno que ficou na minha mão, felizmente o de Cultura, que mais aprecio. Acabados os exames, minha mulher retorna. Quanto à saúde, nada com que se preocupar, que alívio! Ela pergunta baixinho se o que aquela gente toda está lendo é o meu jornal. Respondo que sim, e em seguida começo a recolher os cadernos. Alguns protestam, querem terminar de ler a notícia.
Moral da história: jornal de sala de espera não tem dono, adaptando o velho ditado sobre a falta de segurança que ameaça a dignidade de pessoas embriagadas!

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