domingo, 1 de junho de 2008

Istambul segundo seus músicos

Em 2004, o diretor alemão de descendência turca Fatih Akin convidou o músico Alexander Hacke, também alemão, para trabalhar na trilha sonora de seu filme Contra a Parede. No ano seguinte os dois voltaram a se juntar em Atravessando a Ponte: o Som de Istambul, documentário sobre a música da Turquia. A multiplicidade de estilos e a propriedade dos músicos para falar de seu país e sua cultura são dignos de nota. São retratados na tela desde um grupo psicodélico como o Baba Zula, passando pelo coletivo de DJs Orient Expression, os rockeiros das bandas Replikas e Duman, os irmão rappers Ceza e Ayben, o clarinetista Selim Sesler, os astros pop Erkin Koray e Orham Gencebay, os músicos de rua do Siyasiyabend, até as vozes belíssimas das cantoras Aynur, Brenna MacCrimmon e Sezen Aksu, esta considerada verdadeira diva da cultura popular do país. A obsessão e a fascinação de Hacke chamam a atenção, porque fatores indispensáveis para um bom documentário. Outro ponto interessante é o "fasil", espécie de roda de samba muito comum em uma região do país onde convivem muitos turcos e romenos. Trata-se de uma jam session com muita cerveja!!! Durante um fasil retratado no filme, Selim Sesler discorre sobre, o saz, instrumento de cordas de origem turca, e lembra que um tal de Flamo Mengue, de origem árabe, se estabeleceu da região da Espanha muito tempo atrás e notabilizou-se pela forma como tocava o instrumento, daí a origem da música flamenca. O saz, segundo Hacke, é o pai de todos os instrumentos de cordas.
Muitos outros músicos são retratados, e é realmente bacana ver o grau de conscientização política desses artistas, até porque viveram certas realidades de forma muito mais intensa e duradoura que nós, por exemplo. Para se ter uma idéia, até 1990, o idioma dos curdos, uma das principais etnias da região, era proibido nas rádios locais. Istambul é uma metrópole como muitas outras, mas a contradição é seu adjetivo mais característico, mesmo que isso possa parecer um lugar comum de qualquer metrópole mundial. A beleza detalhada das construções do Império Bizantino ainda se faz perceber entre os arranha-céus cinzentos; a cultura popular mundial convive com a local. Agora fiquei mais curioso ainda para ler o livro de Orhan Pamuk sobre a cidade!
O filme acaba de sair em DVD no Brasil e o lançamento é da Imovision, que tem em seu catálogo produções independentes nacionais e internacionais e esquenta uma porção do mercado de DVDs do país que, embora pequena em relação aos grandes estúdios de Hollywood, oferece opções a um público qualificado que faz questão de possuir e rever seus filmes prediletos.

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