sexta-feira, 20 de junho de 2008

Omar Rodriguez-Lopez, guitar hero?

Ilustração: Bruno Oliveira

A edição de 12/06/08 (no. 1054) da revista Rolling Stone americana traz na capa 4 guitarristas: B. B. King, Jimmy Page (completamente grisalho!!!), Edward Van Halen e Omar Rodriguez-Lopez. Os menos habituados com o bom rock contemporâneo devem com certeza se perguntar: quem diabos é Omar Rodriguez-Lopez? Trata-se literalmente de 50% do projeto The Mars Volta, como ressalta o encarte do cd Amputechture, de 2006: "A parceria entre Omar Rodriguez-Lopez e Cedric Bixler-Zavala é o Mars Volta." É impossível definir o som da banda em poucas palavras. Com influências de punk, jazz de vanguarda, rock progressivo, música erudita e ritmos latinos (para citar somente algumas), e canções enormes de mais de 10 minutos, o Mars Volta imprime originalidade à cena musical mundial, tão martelada por fórmulas desgastadas.
Mas voltemos à matéria da Rolling Stone. O especial com guitarristas, agrupados sob a designação de guitar heroes, traz as dicas de sucesso de vários deles. As características de um típico guitar hero, além da habilidade com o instrumento, é claro, são as mais variadas: personalidade, excentricidade, criatividade, originalidade. Na foto da capa da revista, o tímido Omar posa ao lado desses três nomes considerados gigantes. Um mais por conta da técnica (Van Halen), o outro pela criatividade (Page) e enfim B. B. King, muito mais pela personalidade. Onde se encaixaria Omar no panteão dos guitar heroes? Grande parte do público que o Mars Volta conseguiu cativar é muito mais afim à música alternativa e ao punk rock do que a formas mais sofisticadas, como o progressivo, o heavy metal. Por isso mesmo é que o mérito de Omar está na criatividade e originalidade. Muito mais do que tocar mil notas por segundo, como o desnecessário Yngwie Malmsteen, Omar é inventivo, faz música que não é descartável, e por isso me fez pensar em quem considero o maior guitar hero de todos os tempos: Jimi Hendrix. Não por tocar fogo nas guitarras, mas por ter criado verdadeiras obras primas da música, como Are You Experienced?, Electric Ladyland e Axis: Bold as Love, que arrisco dizer, poderiam nem ter solos de guitarra tamanha a força das composições desses álbuns. Arranjos, sintonia de músicos, improviso, energia. Os discos de Hendrix são espetáculos, e o Mars Volta, à sua forma, está criando obras espetaculares também. Omar lembra que a maior influência de Hendrix sobre seu trabalho são as texturas sonoras, verdadeiras obsessões em suas criações.
Omar é porto-riquenho, tem hoje 33 anos, e sua primeira vontade em relação à música foi a de ser pianista de salsa. Com a ajuda de seu pai e alguns tios, através do caminho da percussão, conga especificamente, chegou ao contrabaixo e enfim à guitarra. Omar reúne em sua música duas realidades diferentes e a princípio incompatíveis, porque movimentos opostos de uma década: o punk rock e o progressivo. "Ouvi Black Flag com 12 anos de idade e King Crimson com 16. São pedras fundamentais na minha forma de compreender o rock cantado em inglês", confessou à Rolling Stone.
Ouvi Mars Volta a semana inteira, e também o fundamental Relationship of Command, do At The Drive-In, banda anterior de Omar e Cedric, mais agressiva e menos sofisticada, mais política e menos poética, mas não menos importante. Música que fará diferença na história do século XXI. Não por vender milhões de discos, mas por expandir limites.


6 comentários:

Snorks disse...

Bacana, só não concordo com a parte do publico. Das pessoas que conheço e convivo que gostam de Mars Volta percentualmente são muito mais ligadas as tais "formas sofisticadas" do que ao punk.

Mas afinal o que é um Guitar Hero?
Johnny Ramone também não seria um?
Quem decide o que essa definição significa?
Culturalmente falando acho que hoje em dia Guitar Hero é o nome de uma série de jogos de videogame...

Anônimo disse...

Cade o original Greg Ginn? Sempre esquecido pelos sofisticados que usam o (nesse caso) termo punk para ficar fincado em alguma coisa.
Omar é criativo, mas precisa comer mto mais farinha ou fazer mais um disco, pq do Mars Volta, pra mim, só o primeiro é original. O resto é Omar-Santana e Cedric-Gritinho

IGOR OLIVEIRA disse...

"Omar é criativo, mas precisa comer mto mais farinha ou fazer mais um disco, pq do Mars Volta, pra mim, só o primeiro é original. O resto é Omar-Santana e Cedric-Gritinho"

Wagner, é com certeza um ponto de vista, apesar da comparação de Omar com Santana me parecer um tanto exagerada. De qualquer forma espero que tenha entendido o ponto de vista do artigo. Só fiquei em dúvida quanto ao que você quis dizer com "ficar fincado em alguma coisa", visto que alguma coisa pode ser coisa nenhuma. Quanto ao seu emprego do termo original, me parece utópico.
Obrigado pela visita. Como chegou ao blog?

Igor Oliveira

Anônimo disse...

o bruno me mandou o link aki... bem legal o artigo! quero comentar seguinte:

"Omar reúne em sua música duas realidades diferentes e a princípio incompatíveis, porque movimentos opostos de uma década: o punk rock e o progressivo."

no caso dele eu acho q isso faz mais parte de uma "evolução". e não q ele tenha escolhido simplesmente o punk e o progressivo para misturar. acho q a mistura desses 2 generos, no caso dele, foi algo gradual. q está mto clara no primeiro disco do mars volta, q ainda tem bastante do at the drive in. por isso, no quesito "originalidade", eu discordo um pouco do wagner.

com relação ao publico... eu acho q depende mto do disco; fãs de atdi ("afim à música alternativa e ao punk rock") com certeza vão gostar mto mais do primeiro disco... assim como o amputechture, para pessoas que gostam de "formas mais sofisticadas", será mto melhor de ouvir.

Unknown disse...

Achar que o Omar é cópia do Santana é típico comentário de quem ouviu o solo da Cicatriz ESP e tomou como parâmetro pra tudo que o Mars Volta fez depois.

O Santana não passa de um guitar hero, assim como o Van Halen, o Omar e o Page são grandes músicos, não apenas guitarristas.

Anônimo disse...

Jorge, não confunda o quanto é fã com comentários sobre a banda. Eu ouvi e bem todos os discos do Mars Volta. Pra mim, ele chupa o Santana e isso não é um elogio.

Igor, "ficar fincado em alguma coisa" = arrumar rótulo como muleta
original = não cópia, com alma própria. E tenho clareza da impossibilidade do novo, do puro, do etc.

Parabéns pelo Blog!