Encontrei na biblioteca de meus pais o livro Os Antipáticos, velho volume de entrevistas que a jornalista italiana Oriana Fallaci captou para o semanário l'Europeo na década de 60. Se você não conhece Oriana Fallaci, pense no velho chavão de alguém que perde um amigo mas não perde a piada, e transporte-o para o ofício jornalístico. Ela não tinha pudor nenhum em perguntar o que desejasse, a despeito da reação que pudesse causar no entrevistado. E quando estava cara a cara com uma pessoa inteligente surgiram alguns perfis e entevistas realmente brilhantes.
É o caso, por exemplo, de seu encontro com Alfred Hitchcock em Cannes, em Maio de 63. Fallaci deu a todos os entrevistados compilados no volume algum epíteto ou aposto, conceito que forma a coerência do livro e que era em geral o ponto de partida da entrevista. Hitch é chamado por ela de "O Senhor Castidade", posição que o próprio endossa afirmando que não se interessa por sexo e nunca teve outra mulher que não sua esposa. De forma alguma as perguntas da jornalista sobre o assunto embarassam o diretor. Pelo contrário, com astúcia notável o bonachão interage com excelência, conta paidas, fala da vida simples que leva, do seu apreço pelo suspense em distinção ao terror, e lembra que os maiores prazeres da sua vida são comer, beber e dormir. Tudo relatado muito naturalmente, revelando que como todo grande artista não faltam obcessões (ao se empolgar contando histórias, Hitch pergunta mais de uma vez à jornalista, em um curtíssimo espaço de tempo, sobre o gravador que registra a entrevista: "Há fita que chegue?")
É o caso, por exemplo, de seu encontro com Alfred Hitchcock em Cannes, em Maio de 63. Fallaci deu a todos os entrevistados compilados no volume algum epíteto ou aposto, conceito que forma a coerência do livro e que era em geral o ponto de partida da entrevista. Hitch é chamado por ela de "O Senhor Castidade", posição que o próprio endossa afirmando que não se interessa por sexo e nunca teve outra mulher que não sua esposa. De forma alguma as perguntas da jornalista sobre o assunto embarassam o diretor. Pelo contrário, com astúcia notável o bonachão interage com excelência, conta paidas, fala da vida simples que leva, do seu apreço pelo suspense em distinção ao terror, e lembra que os maiores prazeres da sua vida são comer, beber e dormir. Tudo relatado muito naturalmente, revelando que como todo grande artista não faltam obcessões (ao se empolgar contando histórias, Hitch pergunta mais de uma vez à jornalista, em um curtíssimo espaço de tempo, sobre o gravador que registra a entrevista: "Há fita que chegue?")
A impressão é de que o dinamismo entrevistado/entrevistador existe não necessariamente por conta de boas perguntas, mas porque Fallaci deixa Hitchcock a vontade. E todo bom jornalista sabe ser este um primeiro passo para uma entrevista de sucesso: fazer o entrevistado se sentir bem.
O livro é bem velhinho, e procurei alguma edição recente em português mas não encontrei. No exemplar nem consta ano de publicação, e a editora responsável, Sucessos Internacionais - RJ, sumiu do mapa. Fiz questão de scannear a capa para vocês terem a idéia do quão jurássico é o volume no qual constam ainda deliciosas entrevistas com Ingrid Bergman, Samu Davis Jr., Jeanne Moreau e Federico Fellini, e com outros notáveis dos anos 60.
Oriana Fallaci morreu em 15 de Setembro de 2006, com 77 anos, como sempre envolvida em polêmica. A jornalista acabara de lançar o livro A Força da Razão (2004), e suas alegações sobre o fundamentalismo islâmico renderam-lhe críticas contundentes. Na ocasião de seu falecimento o jornal Estado de São Paulo publicou uma bela matéria no Caderno Aliás do domingo subseqüente ao seu falecimento. Pena não constar nada desse material na versão online do Estadão. De Os Antipáticos também não achei nenhum outro material na internet, a não ser anúncio de venda em sebos virtuais, nos quais o volume custa de R$ 6,00 a R$ 10,00 em média.
Um comentário:
Ouvi falar de Oriana Fallaci a primeira vez, lá pelo ano de 2001/02, por conta de uma amigo que acompanhava jornais italianos. Ela é uma jornalista que, como todo bom jornalista, foi comunista nos anos 60 e agora, percebendo a bobagem daquela posição, tornou-se uma conservadora de carteirinha.
Para conferir basta ler o La forza della ragione) é um livro publicado em 2004 e é uma crítica feroz à islamização da europa.
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