quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Rádio Gagá: Podcast com Música e blá blá blá

Eis mais uma iniciativa de rádio/podcast bem bacana. A empreitada é do multi-homem Marcelo Calenda e seu amigo Alexandre Deruiz, o Zé!!!! Por enquanto a Rádio Gagá teve dois programas: Original ou Cover? e Versões Estapafúrdias. São sempre 30 minutos de duração, 5 músicas no total e muitas curiosidades, coisas que um grande apreciador de música nunca dispensa. Os caras também tiveram todo o cuidado na inserção de vinhetas para abrilhantar as piadas infames que volta e meia soltam, como a da Dra. Cássia, no primeiro programa. O portal para acesso aos programas também está caprichado, o mínimo a se esperar vindo do Marcelo Calenda.
Aguardo ansioso o terceiro programa!!!!

Acessem: Rádio Gagá
radio-gaga@bol.com.br

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Maus: genial porque simples!

Melhor definição não há para a HQ Maus, de Art Spiegelman: genial porque simples.
Há muito estava me devendo essa leitura, e semana passada finalmente consegui. Spiegelman conseguiu contar a história do Holocausto como ninguém jamais fizera, em primeiro lugar por conta da linguagem peculiar das HQs, e em segundo pela forma de abordar o ponto de vista dos judeus. Nessa autobiografia que é Maus, o autor retrata seu pai de forma extremamente realista, criando inclusive uma imagem de que o momento presente deste é tão ruim ou pior do que o que sofrera durante a guerra.
Em termos visuais, não há grandes inovações. Uma das idéias mais marcantes vemos num momento em que judeus fogem de uma das prisões nazistas é os caminhos que percorrem formam a suástica quando vistos de cima. Apesar dessa simplicidade, os ratos (forma como os judeus são representados) são extremamente expressivos, e as soluções mais elementares são as mais inteligentes, como a própria escolha do preto-e-branco.
A representação usando animais segue as tradições das fábulas de La Fontaine e Esopo, porém carregadas do realismo que a situação exige. Além dos judeus-ratos, os poloneses são porcos, os alemães, gatos, os americanos, cães e os franceses, sapos.
Maus é uma visão do micro para o macrocosmo. Do que aconteceu de semelhante com cada judeu em particular durante o período da Segunda Guerra, e que refletiu na cultura desse povo como um todo. Os reflexos desse processo histórico sobre o povo judeu que migrou para os Estados Unidos também está muito bem representado na obra do escritor americano Philip Roth, cujos livros também estão entre as minhas leituras para colocar em dia. De volta a Spiegelman, um Prêmio Pulitzer com todo o mérito, para uma obra que virou referência não só para a arte dos quadrinhos mas para o entendimento de um dos momentos mais marcantes da história contemporânea.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Borges e os orangotangos eternos

Há oito anos a Companhia das Letras lançou a coleção Literatura ou Morte, com a proposta de que escritores contemporâneos criassem histórias policiais nas quais autores consagrados fossem personagens. No ano seguinte ganhei de presente Borges e os orangotangos eternos, é claro que não por acaso, mas por indicação minha mesmo. Como começara a ler Borges e estava fascinado, o livro, escrito por Luis Fernando Veríssimo, me pareceu muito interessante. Mas só esta semana resolvi lê-lo. Na época achava que conhecia pouco a obra de Borges para entender outro texto amparado nela. Mesmo sabendo que ainda não li tudo que desejo de Borges (ou seja, tudo!), a leitura foi tranqüila.
E Veríssimo, brilhante.
Vamos à trama: o cinqüentão Vogelstein, morador de Porto Alegre, recebe um convite para congresso sobre a obra de Edgar Allan Poe que acontecerá em Buenos Aires. Na capital argentina, após o coquetel de abertura do evento, se vê envolvido no assassinato de um dos participantes, o alemão Joachin Rotkopf. Por ter tantos desafetos entre os presentes, a morte de Rotkopf tem muitos suspeitos e é um prato cheio para Vogelstein e seu ídolo Jorge Luis Borges.
Veríssimo conseguiu criar uma história que homenageia Borges à medida que brinca com a idéia de uma história dentro da outra e tem o próprio escritor como personagem para especular sobre o assassinato e por fim desvendar o mistério.
O autor-personagem de Veríssimo se transforma em alguém de carne e osso, talvez mais real do que o próprio Borges que imaginamos. Os três ou quatro encontros do protagonista Vogelstein com o autor do Aleph nos dão a impressão de estar ali, fora o fato da narrativa o tempo todo ser dirigida ao próprio Borges, como um flashback por carta, literalmente um livro que relata todo o acontecido.
O Borges de Veríssimo ainda é capaz de dar lições de imaginação para Vogelstein escritor:

"Escrever para recordar."

Em meus reles exercícios de escrever, nunca mais esqueço essa máxima, seja ela do Borges autor ou do personagem. Cada vez mais escreverei para recordar.
Apesar do livro estar esgotado na editora, não deve ser difícil de encontrar em sebos ou pela internet. Diversão garantida para os fãs de Borges, Poe, Veríssimo ou simplesmente de uma boa história de mistério. Tanto melhor se gostares dos quatro.

domingo, 24 de agosto de 2008

Qual a sua versão preferida de 'Round Midnight'?

Ontem eu, Erico Nuñez e Fernanda Baggio visitamos o ilustríssimo casal Calenda com o pretexto de estrearmos seu novo toca discos. Ouvimos sim muitos vinis, mas muitos cds também, batemos muito papo e tomamos cerveja.
Entre os LPs que levei e ouvimos, The Wes Montgomery Trio: A Dynamic New Sound (1959). Comentei com a Ana Luiza que esse disco tem uma das melhores versões que já ouvi de Round Midnight, o clássico do Sr. Thelonious Monk. Ela então perguntou se eu conhecia uma versão com a Maysa, e pegou o cd para ouvirmos. O cd, Canção do Amor Mais Triste (1962), sempre esteve debaixo do meu nariz lá na livraria mas nunca dei atenção. Trata-se de um relançamento da Som Livre, pela Coleção Som Livre Masters, e custa míseros R$ 10,90. A interpretação de Maysa é incrível, e já entrou para a lista das minhas prediletas, junto é claro com a de Montgomery, a do quinteto de Miles Davis no álbum 'Round About Midnight (1956) (a entrada de John Coltrane na segunda parte é de derrubar qualquer um da cadeira!) e, é claro, as do próprio Monk, como a última faixa do disco Monk's Blues (1968).
Proponho então aqui uma brincadeira: qual a sua versão preferida de Round Midnight?
Quero ver essa postagem com recorde de comentários, vamos lá! E quem contribuir não se esqueça de citar o álbum onde podemos encontrar a versão!

"It begins to tell, 'round midnight, midnight.
I do pretty well, till after sundown,
Suppertime I'm feelin' sad;

But it really gets bad,
'round midnight.
Memories always start 'round midnight

Haven't got the heart to stand those memories,
When my heart is still with you,
And ol' midnight knows it, too.

When a quarrel we had needs mending,

Does it mean that our love is ending.
Darlin' I need you, lately I find

You're out of my heart,

And I'm out of my mind.

Let our hearts take wings'
'round midnight, midnight
Let the angels sing,
for your returning.
Till our love is safe and sound.
And old midnight comes around.

Feelin' sad,
really gets bad Round.....Round.......Round....Mid.....night....
"

terça-feira, 19 de agosto de 2008

The New Original Sonic Sound!!!!!!

Difícil acreditar, mas enfim consegui esse disco! Mudhoney e amigos tocando The Sonics!!!!
Anos atrás, ouvindo o extinto Garagem, programa apresentado pelo André Barcisnki às segundas-feiras na Rádio Brasil 2000, ouvi algumas faixas mas não consegui nem gravar o nome do projeto nem achar na internet. Depois de muito penar, consegui as informações para importar o disco lá pela Livraria Cultura, mas o fornecedor de importados nunca conseguia. O disco é independente e volta e meia não estava disponível.
Hoje pela manhã, comentei com o Fábio Outsuka que há muito procurava esse disco mas não estava vindo nas importações que fazíamos. Para a minha surpresa, ao acessar o detalhe do CD no sistema da livraria, vimos que havia 1 exemplar disponível, e justo no Market Place, onde estávamos. Comprei hoje mesmo, e já estou ouvindo pela segunda vez!!!!!
Se você não tem idéia do que estou falando, vamos a alguns esclarecimentos. The Sonics é a mãe de todas as bandas de garagem. Nasceu e morreu nos anos 60 (todas as tentativas de ressurreição posteriores são patéticas), com os vocais rasgados e gritos dignos de um soulman do vocalista Gerry Roslie. Reza a lenda que o guitarrista Andy Parypa, após tentativas infrutíferas de encontrar o som ideal para sua guitarra, passou uma faca nos falantes de seu amplificador, e aí sim ficou satisfeito. Só por aí já dá pra imaginar o som dos caras. Suas influências: The Kinks, soul music, Little Richards, enfim, tudo o que todo mundo estava ouvindo e tocando nos anos 60. A personalidade dos Sonics, no entanto, fica por conta do som sujo, que realmente definiu o que viria a ser o rock de garagem nas décadas posteriores.
Não é à toa que o tal movimento grunge, apesar de forjado pela mídia interessada em polêmica, tenha surgido no mesmo celeiro. Os Sonics são de Tacoma e o grunge explodiu em Seattle, ambas no estado de Washington. Seattle é o berço do Mudhoney, que deve ter encarado o projeto por pura brincadeira e acabou registrando algo realmente histórico. Vamos aos músicos e faixas:

Marky Arm (Mudhoney e Monkeywrench) - no álbum faz todos os vocais
Tom Price (Monkeywrench) - guitarra
Steve Turner (Mudhoney e Monkeywrench) - no Mudhoney é guitarrista, aqui gravou o baixo
Dan Peters (Mudhoney) - bateria
Bill "Kahuna" Henderson - guitarra
Craig Flory - saxofone
Scott McCaughey - órgão Hammond

Faixas:
The Witch
He's Waitin'
Shot Down
You've got your head on backwards
Dirty Robber
I'm going home
The Hustler
Psycho
Maintaining my cool
Boss Hoss
Like no other man
Strychnine
Have love will travel
High time
Cinderella
Louie Louie

Enfim, se na linhagem da garageira os Sonics são os avós e o Mudhoney os pais, nós, os Droogs, nos consideramos, humildemente, netos, mesmo não tendo nascido em Washington.

Star Wars: Clone Wars (pode conter spoilers)

Estreou na sexta passada no Brasil Star Wars: Clone Wars, animação em 3D que é mais um interlúdio entre os episódios II e III da saga Star Wars. Como minha espectativa é maior mesmo em relação à tal série live action prometida para sei lá quando, fui ao cinema não esperando nada tão bacana, até porque não sou muito chegado em 3D.
Para a minha surpresa, a história é atraente, mais climão de Sessão da Tarde mesmo, para agradar os mais jovens, mas que não desagrada os fãs veteranos do universo Star Wars. Uma boa trama mostra o exército separatista do Conde Dooku seqüestrando o filho de Jabba para tentar jogar o gângster contra a República e os Jedi, já que Dooku faz com que Jabba pense que foram os Jedi que seqüestraram seu pimpolho.
Masturbações tecnológicas à parte, a tecnologia 3D permitiu um trabalho de texturas muito bom, cenas de batalha dinâmicas, destacando a atuação dos Clone Troopers e, é claro, duelos de sabres de luz além dos limites dos atores reais. No entanto, o que mais me chamou a atenção foi o comic relief do filme: Anakin e sua padawan, Asoka. Isso mesmo. Além, é claro, dos dróides de batalha do exército separatista, os jedi são o recurso cômico do filme, já que R2-D2 e C3PO estão separados o tempo todo. Pensem na relação de Obi-Wan e Anakin no início do EP II e elevem a situação à enésima potência. Asoka é espirituosa, inteligente e corajosa, e enfrenta Anakin sem medo. E podem acreditar: a relação, que no começo parece patética, no fim das contas se torna apropriada e cabe perfeitamente dentro da trama.
Em termos de cânone, por mais que o troço seja encomendado por George Lucas, creio que alguns indícios fazem transparecer o fato de que Clone Wars não pertence à saga de seis filmes, apesar de ser universo SW. Clone Wars não tem número de episódio como os seis filmes. A trilha sonora contém uma variação do tema original de SW, e não o próprio, até porque o compositor da vez é Kevin Kiner, não o próprio John Williams. Somente Anthony Daniels, Samuel L. Jackson e Christopher Lee gravaram as vozes dos seus personagens, C3PO, Mace Windu e Dooku respectivamente. Mas o trabalho dos demais artistas não decepciona, e ao longo do filme vamos nos familiarizando com as vozes, até bem parecidas com as originais dos atores dos filmes.
Enfim, cuidado com as espectativas, vá tranqüilo, a fim de curtir uma boa animação de aventura. O importante é que o clima de Star Wars está ali.

domingo, 17 de agosto de 2008

Sonic Youth: o conhaque Dreher de uma semana difícil

Presenteio-lhes com essa foto-montagem mais que tosca, que não deve em momento algum ser confundida com blasfêmia. A semana que passou foi difícil e, não fosse o bom e velho Sonic Youth teria sido bem mais. Não que eu seja um profundo conhecedor de conhaques, mas fiz a analogia alcoólico-musical mais por conta das sensacionais vinhetas e propagandas do conhaque Dreher nos anos 80.
Sei que é o maior lugar comum falar de como a música do Sonic Youth faz bem aos ouvidos, principalmente para os adeptos das boas distorções de guitarra e para as moças que suspiraram em uníssono quando Kim Gordon, também suspirando, começou I Love You Golden Blue, no show de São Paulo em 2005. De qualquer forma, fica aí o registro do meu Dreher da semana, especificamente o álbum Nurse, e deste a música Dripping Dream.

Deu duro: Sonic Youth! Desce macio e reanima!!!

Fique longe dos psicotrópicos: a derrocada de Júpiter Maçã

Ontem fui ao C.B. assistir a um show do Júpiter Maçã. Já faz uns dez anos que vi bons shows dele, tanto em divulgação do álbum A Sétima Efervescência quanto do Plastic Soda. Seu último disco, Uma Tarde na Fruteira, eu não tinha ouvido ainda, então realmente não sabia muito o que esperar.
A surpresa foi no mínimo bizarra: num misto de Serguei, Deborah Harry, Jim Morrison e o que mais você imaginar, uma jaquetinha de brechó curta, cabelos louros e movimentos misturando Ney Matogrosso com Austin Powers, Júpiter gritava palavrões, falava pelos cotovelos em inglês e português ao mesmo tempo. De música mesmo sobrou muito pouco. De Efervescência, Pictures and Paintings e Querida Superhist X Mr. Frog. Para falar a verdade não sei se tocou mais alguma, fui embora antes do show acabar. Das outras música, fora Síndrome de Pânico, deu para entender muito pouco, porque ele canta como um ébrio na sarjeta. A foto acima, apesar de não ser da noite de ontem, dá uma idéia de como está hoje o Sr. Flávio Basso, ex-integrante de cultuadas bandas de Porto Alegre, os Cascavelletes e o TNT.
Uma pena. Foi rir pra não chorar mesmo. O afã de chegar ao patamar do ídolo, Barrett no caso, tomou o rumo errado, e ao invés de se inspirar na música, Júpiter ficou mesmo é com a viagem. Fiquei lembrando do primeiro show que conferi dele, num lugar ali na Rua Girassol do qual esqueci o nome. Tocavam com ele o Julio Cascaes no baixo, e Marcelo Gross (hoje guitarrista do Cachorro Grande), na bateria, e foi excelente. Será que ele ainda consegue tocar algum instrumento? Na apresentação da banda, esqueceu o nome do baterista. O cara anda até dando entrevista e falando que ser gênio é muito difícil!!!!!

Por isso, meninos e meninas, fiquem longe dos psicotrópicos!

domingo, 10 de agosto de 2008

Três Cantoras: Salmaso, Esperanza e Elis

Me perguntei esses dias se estou ficando velho, porque ando ouvindo muito mais música brasileira do que rock (a não ser muito Sonic Youth, é claro!), o que reflete minhas últimas aquisições fonográficas e o presente que comprei para o meu pai ontem.
Monica Salmaso foi uma cantora cujo trabalho demorei a digerir. Mas seu novo DVD, Noites de Gala, samba na rua, gravado em Março deste ano no Teatro Fecap, com as música de Chico Buarque que compõem o repertório do seu CD homônimo, não deixam dúvida. Nada como ver as interpretações, de Salmaso e do grupo Pau Brasil. Não tive a oportunidade de conferir o show que eles fizeram no ano passado na Cultura do Conjunto Nacional, então o primeiro contato foi mesmo pelo DVD. Levei ao meu pai, como diz meu amigo Erico Nuñez, um presente com segundas intenções. E realmente foi uma alegria passar o Dia dos Pais com meu pai e meu filho e assistir ao DVD com eles. A interação da cantora com o grupo, como ela mesma comenta nos extras do DVD, é o que difere um trabalho autoral do desempenho de um mero intérprete de letras. Todas as interpretações são impecáveis, mas destaco Quem te viu, quem te vê e Partido alto como as minhas prediletas. A cantora ainda abre espaço no show para uma interpretação do Pau Brasil sem ela, na música Pulo do Gato. Qualquer adjetivo que não o de uma execução matadora é injusto. Enfim, talvez não pelo caminho mais direto, porque precisei ver pra crer, me interessei muito pela obra de Mônica Salmaso. O DVD vale cada centavo, e meu pai adorou. Nem conhecia o trabalho da cantora.
Vamos agora de Esperanza Spalding. Há algum tempo falei aqui no blog do pianista Leo Genovese, que acompanha a cantora e contrabaixista no disco Esperanza, lançado este ano. Acabei comprando o CD porque me chamou muito a atenção só de ouvir lá na loja, o que não permite uma audição tão atenta, visto que estou lá pra trabalhar e não ouvir música. Enfim, o disco é impressionante, em primeiro lugar porque ela toca muito bem, e a equalização e a sonoridade do baixo são especiais, o que qualquer um que já tocou baixo preza, e muito, em qualquer gravação. Esperanza é uma cantora no mínimo diferente, com um timbre que não encanta à primeira ouvida mas com uma capacidade de florear e fundir seus solos de contrabaixo ao sketch singing que é só precisão e beleza. Comentei também no post sobre o pianista Genovese que o clima do álbum de Esperanza me lembrara uma fase de Mccoy Tyner, digamos, mais espiritual e voltada para as raízes da África, principalmente com os álbuns Extensions e Asante, ambos de 1970. Acredito mesmo que o lançamento nacional do álbum de Esperanza e sua vinda ao Tim Festival se devem, é óbvio, ao potencial comercial que a Universal Music viu no repertório de uma estrangeira que gravou dois clássicos da MPB (Ponta de Areia e Samba em Prelúdio, ambas cantadas em português no CD), mas o disco é muito mais que isso. As sonoridades, no geral, também remetem à melhor música feita no Brasil e às raízes africanas do jazz, o disco só tem músicos bons, gravação impecável e umas quebradeiras da pesada!
Por fim, Elis Regina. O que são R$ 13,90 pelo disco de 1977 de Elis, também conhecido como Caxangá, por ser essa a faixa que abre o álbum? Dá até vergonha pagar tão pouco. Elis, em total sintonia com grandes baluartes da música caipira refinada, Renato Teixeira e seu grupo Água, desfila um repertório visceral, dramático e sublime. Caxangá não dá nem coragem de comentar. E quando entra, no finalzinho, a voz de Milton Nascimento? Uma das canções que com certeza estará no meus fones de ouvido caso um dia eu resolva saltar de pára-quedas ou coisa que o valha. A melancolia de outras faixas, como Morro Velho e Sentimental eu Fico, carregam a essência do disco, mas esse clima é quebrado ao menos uma vez, pela energia de Colagem, que apesar de dançante e animada traz em sua letra lições de vida contundentes. Há muito eu estava me devendo esse disco, desde que peguei emprestado o LP da minha mãe e não queria devolver. Aliás, meus pais comentaram que foram a um show de Elis com esse repertório. Seu tivesse a idade que tenho hoje nos anos 70 ia torrar todo o meu dinheiro nesses shows, não tenho dúvida.
Ficam então as dicas, manjadas ou não, do meu momento cantoras. Se a constatação é essa, a de que estou ficando mesmo velho por conta das minhas preferências musicais, o Pete Townshend que me desculpe mas o verso dele não está com nada. E antes de vocês, que gostam do The Who, me crucificarem por minha afirmação, vale informá-los que semana passada ouvi Live at Leeds à exaustão!

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

007 Quantum of Solace

Esta postagem não é sobre detalhes do novo Bond não. É sobre a babaquice dos "especialistas" em 007 que insistem em meter o pau em Daniel Craig, em Casino Royale, no reboot da série. Semana passada, quando fui ver Batman Dark Knight, passou o trailer de Quantum of Solace, e fiquem entusiasmado. Por mais que a história gire em torno de uma suposta vingança que Bond resolve empreender contra os assassinos de Vesper, o filme parece ser muito bom, guardadas as proporções de que trailer é montado pra fazer a gente ir ao cinema e pagar ingresso mesmo.
Enfim, enquanto o novo Bond não estréia, para os puristas de plantão ficam as palavras do escritor Anthony Burgess, transcritas do prefácio da edição brasileira de Cassino royale, pela L&PM, 2000:

"Os filmes, que ficaram cada vez mais cheios de efeitos especiais e cada vez menos interessantes psicologicamente, são paródias grotescas de suas novelas (de Flemming), ..."

Aí, furiosos, vocês puristas vão me dizer que Bond se notabilizou mesmo como mito por causa do cinema, blá, blá, blá. Então, por isso mesmo é que eu reitero: qual o problema do reboot? O próprio Roger Moore, comparado a Sean Connery, não foi lá um estrondo em termos da renovação da imagem viril do personagem. Moore sempre pareceu mais velho que Connery (até porque o é) e o estilo que desenvolveu, mais piadista e quase invencível (o 007 de Moore raramente apanhava dos vilões), tem pouco a ver com o personagem original de Ian Flemming.

Queridos puristas, curtam o cinemão de entretenimento não como filosofia aristotélica ou as eleições do Zimbábue, mas como entretenimento que é!!!!!!!

sábado, 2 de agosto de 2008

Batman Dark Knight

Caso não tenha visto o filme ainda, o texto contém os famigerados spoilers, que podem estragar as surpresas. Sendo assim, guarde o link para ler quando tiver assistido.


Não estou nem um pouco entusiasmado com adaptações cinematográficas de HQs ultimamente. Mas já que Batman é Batman, fui ver. E gostei.
Caracterizações de personagens sensacionais, roteiro típico das boas histórias do morcego, bem amarrado. Mas sem dúvida o aspecto mais importante é o fato de o final da história não resolver nada, como em todas as boas histórias do personagem que já li. O final aberto faz a história assustadoramente dramática, e por que não realista, apesar de se tratar de personagens de ficção. O dilema da explosão dos barcos é especialmente tocante, ao sinalizar que qualquer cidadão comum, quando sujeito a uma situação limite, pode ir no mesmo caminho do Coringa.
Heath Ledger está realmente soberbo, como os trailers e rumores anunciaram. Vale o filme, sem exageros. Christian Bale, Gary Oldman, Morgan Freeman, bons como em Begins. Até o Harvey Dent de Aareon Eckhart, que me causou estranhamento no início, acabou surpreendendo no final. Mas o diabo da Rachel Dawes, agora interpretada por Maggie Gyllenhaal, é um personagem que me incomoda. Só para criar uma tensão romântica não vale à pena. Enfim, não dá para ter tudo. Como estou mesmo indisposto para filmes de HQs, o balanço é positivo, mas considero um filme para digerir aos poucos, assistir mais vezes.
Como nos célebres clássicos do morcegão, Batman não é herói, Coringa não é vilão. São cada um uma metade que compõe a todos nós, e o limite tênue que as separa pode pender para um ou outro lado a qualquer momento.