Yesterday You Said Tomorrow é o novo disco do trompetista Christian Scott, de Nova Orleans. Scott tem apenas 27 anos mas já lançou 5 trabalhos. E concebeu agora um disco extraordinário. Seu som me chamou a atenção lá na Cultura do Villa Lobos. O Silvio, vendedores que fica lá no setor de clássicos, pôs pra tocar e quando cheguei imediatamente o som me pegou. Lembrei de uns discos de que gosto muito, do Mccoy Tyner no início dos anos 70 (Asante e Extensions). Apesar do trabalho de Scott ter elementos mais modernos, os dois artistas se aproximam pelo diálogo com outras sonoridades que não a do jazz puro. Tyner dialoga com ritmos africanos (sobretudo em Asante) e Scott abraça o rock e a melhor tradição do jazz para criar sua música. O próprio trompetista cita, no encarte do CD, Coltrane, Miles, Mingus, Hendrix e Dylan como pontos de referência. Jazzista que cita, entre suas influências, músicos que não de jazz, demonstra maturidade, e consegue trabalhar com um leque muito maior de possibilidades. Não dá pra ser purista em jazz no mundo contemporâneo. É certo que Wynton Marsalis recuperou uma tradição que vinha ficando cada vez mais enterrada pelas diversas variações do fusion que surgiram desde os primeiros flertes de Miles Davis com a eletricidade, mas quem hoje conseguir unir bem a tradição e a inovação no jazz é que está num bom caminho.
Yesterday You Said Tomorrow é um desses casos. Da tradição, o álbum tem temas marcantes que retornam ao final de cada música, amparados por arranjos de piano e bateria extremamente modernos. Quebradeira de primeira qualidade, cortesia do pianista Milton Fletcher e do baterista Jamire Williams. Completam o grupo de Scott o baixista Kristopher Keith Funn e o guitarrista Matthew Steven, que dá ao disco momentos para fãs de Wilco, Sonic Youth e Radiohead (ouça "Angola, La & the 13th Amendment"). E por falar em Radiohead, a segunda faixa do álbum de Scott, "The Eraser", foi adaptada de uma canção homônima do álbum solo de Thom Yorke. A faixa que abre o álbum, "K.K.P.D." (segundo Scott, Ku Klux Police Department), lembra Mingus tanto na veia política quanto no caos organizado característico do lendário baixista. Preciso falar mais?
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