Há poucos dias terminei a leitura de Zero, do Ignácio de Loyola Brandão, mais um volume que encontrei na surpreendente biblioteca de meus pais. Faz mais ou menos um ano, em um evento de escritores jornalistas no Memorial da América Latina, Loyola participou de mesa redonda sobre a Revista Realidade, junto com Jose Hamilton Ribeiro e Milton Severiano, e falou sobre sua matéria prima para a construção de Zero: nas redações de jornais e revistas por onde passou durante o período da ditadura militar, recolheu várias matérias censuradas dos peródicos. Esses fatos bizarros que nunca foram publicados são o pano de fundo para a existência do desgraçado Jose Gonçalves, morador da América Latíndia, país cheio de regras e paranóias, onde os poderes se fundem e confundem, Igreja e Estado exercem uma ditadura nefasta e o dia-a-dia dos cidadão comuns é um verdadeiro caos. A narrativa truncada, com sucessões de notícias de jornais e dos acontecimentos envolvendo José e os personagens da sua história, acaba dando um ritmo surpreendente à historia, contada em liguagem enxuta, simples e contudente. No ano passado eu tinha lido Não Verás País Nenhum, o romance mais importante da carreira de Loyola em virtude de sua repercussão em todo o mundo. As duas obras são distopias que não perdem em nada para os grandes clássicos do gênero, como 1984, de George Orwell, e Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Bacana é ver esse tipo de reflexão com a realidade brasileira como pano de fundo. Loyola continua sendo um grande cronista da vida quotidiana, observador astuto das coisas mais simples que permeiam nosso dia-a-dia e com certeza são as melhores inspirações para grandes histórias.
Há 2 meses
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