domingo, 17 de fevereiro de 2008

Ferramentas potencializadoras do mal

As freqüentes chacinas realizadas por estudantes nos Estados Unidos nas últimas semanas, dentro de instituições de ensino, me fizeram lembrar a teoria do espanhol Manuel Castells: diferente do que defendem seus detratores radicais, a internet não é em sí algo negativo, mas pode potencializar tendências negativas.
O estudante Stephen Kazmierczak, 27, entrou na última quinta feira em um auditório com 150 alunos na Northern Illinois University, disparou mais de 50 tiros, matou 5 pessoas, feriu 15, e em seguida se matou. O Estado de São Paulo da sexta feira informou que o próprio autor do crime comprou as armas que utilizou. Tratava-se de um estudante muito respeitado na Universidade, segundo funcionários entrevistados, mas que nas últimas semanas vinha apresentando problemas de comportamento logo após parar de tomar remédios. O que poderia acontecer se esse rapaz não tivesse acesso às armas? Talvez não fosse evitado algum ato de violência, mas as conseqüências seria muito menos dramáticas, acredito. A sala tinha alunos de primeiro ano, que estavam iniciando sua vida acadêmica. Algumas das meninas mortas tinham 19 e 20 anos.
Ainda pensando na relação disso com a internet, alguns desses assassinos das universidades americanas registraram depoimentos em canais de vídeo na web, desabafando sobre sua angústia em relação à vida e ao mundo. É o caso, por exemplo, de CHO SEUNG-HUI, 23, estudante sul-coreano que matou 32 pessoas numa escola técnica na Virgínia ano passado e postou suas intenções no You Tube. O canal de informação mais democrático do mundo real e virtual permite extrapolar. E o que se faz com isso? Sensacionalismo, é claro. Por isso é que a cada semana acontece um crime desses. Uma retroalimentação do próprio mal, uma cobra que morde o prório rabo. Republicanos e democratas, quaisquer que venham, terão trabalho para tratar uma psicopatologia social generalizada, enraizada na sociedade americana e encobeberta por sorrisos condoleezzianos e bushianos e guerras fabricadas sob-medida.
Olhando para a Terra Brasilis, lembro do referendo do desarmamamento, realizado em 23 de outubro de 2005, através do qual o Brasil disse que tem sim o direito de comprar armas de fogo e munição. Segurando a bandeira dos direitos inalienáveis do cidadão, as pessoas, certamente, ou não viram ou não se lembraram de uma das seqüências do filme Fahrenheit 11 de Setembro em que Michal Moore mostra primeiro a mãe orgulhosa de enviar o filho para a guerra, e minutos depois revoltada com sua morte no front.
Essas armas guardadas em caixas de sapato nos guardas roupas de muitas casas do nosso país caem nas mão de Richthofen e Cravinhos, mas também de outros cidadãos, muitos deles de bem, que se, no segundo de desespero em que tiram uma vida não tivessem a arma na mão, poderiam mudar sua história. Parabéns Brasil pelo referendo de 2005!!!!!
Muita gente, induzida pela oposição ao governo Lula, foi ludibriada por uma ideologia de direitos do cidadão que escondia uma questão partidária, de votar pelo NÃO para boicotar o governo ruim do PT. Mas trata-se de uma questão de vida. Nos Estados Unidos, a legislação é distinta para cada Estado, não vou especificar aqui uma por uma. Mas tudo que está acontecendo por lá é simplesmente a colheita da safra de um governo que, por interesses econômicos e hegemônicos inventou inimigos externos e baixou a guarda diante dos seus arqui-inimigos internos.



Suzane Von Richthofen

CHO SEUNG-HUI

Stephen Kazmierczak

Um comentário:

Anônimo disse...

Igão, primeiramente, parabéns pelo texto ponderado, impactante e sob medida para o assunto. Que não merece os holofotes, mas sim estudos sérios e, mais que isso, propostas reais para tentar diminuir esses indíces.
A legislação de armas aqui nos Estados Unidos é baseada no direito assegurado pela Constituição, então, o que os Estados fazem é limitar ou dificultar essa compra, porém, proibir nenhum deles pode.
Tive contato com um caso de extrapolação virtual como essa, mas em o uso de armas. Um colega de classe das minhas sobrinhas, então com 15 anos, resolveu postar no blog que estava desgostoso, triste e não via mais razão para se viver. Uma amiga leu e ligou para ele. O rapaz confirmou que faria mesmo e, com a garota ao telefone, largou o aparelho, foi até a janela do apartamento e pulou. Ok, ele morreu, mas imagine o trauma dessa garota? E dos demais amigos que achavam que ele estava apenas carente e se fazendo de coitadinho.
Mas o que fazer? entender cada crise "virtual" como uma possível verdade? Interceder rapidamente para ameaças? Valorizar simples postagens ao extremo ou arriscar que elas se tornem realidade?
Enfim, um assunto muito sério, triste e que, infelizmente, nenhum dos governos do mundo tem condição de controlar. Acho que fica na mão de pais como eu e você, tentar evitar que nossos próprios filhos passem por isso, mas quando eles passam a agir por conta própria e vivem fechados em seus próprios medos, não há muito o que fazer.

um abraço,
Fábio