domingo, 27 de janeiro de 2008

São Paulo: 454 anos





A cidade cresce em proporções absurdas e dificilmente vemos alternativas a esse crescimento. Quem pode se esconde nos condomínios fechados, quem fica à margem dorme onde der. Em pesquisa divulgada pelo jornal O Estado de São Paulo no dia 25/01, cerca de 60% dos paulistanos não consideram a cidade segura para morar. A despeito de tudo isso, continuo fascinado com esta cidade onde nasci e de onde dificilmente sairei para morar em outro lugar. Um lugar de convergência, para onde tanta gente vem em busca de resposta. É certo que muitos dos que chegam não são atendidos em suas buscas, como o pedreiro Benedito do Pagode, que sacou uma faca no meio da Missa do aniversário da cidade na Catedral da Sé. Ele interrompeu a celebração bradando algo que os jornais, é claro, não relataram. O importante para a imprensa foi o fato em si, mas não as motivações que levaram o cidadão a se manifestar. Mas esse não é um fenômeno exclusivo dos nossos dias. Em suas duas horas de vida ficcional, o personagem Carlos (Walmor Chagas), protagonista de SÃO PAULO SOCIEDADE ANÔNIMA,
não encontra sua resposta na cidade. O diretor Luiz Sérgio Person retratou no seu tempo o dilema que também é o de hoje. Da cidade que cresce desenfreadamente e ignora as aspirações dos seus habitantes. O recorte poderia não ser o da expansão da indústria automobilística, mas qualquer outro ligado ao crescimento da metrópole. A angústia do personagem estaria ali, porque é este o aspecto primordial que Person quis descortinar. Afora isso, o filme ainda carrega o pioneirismo perverso de casar o cinema e a publicidade, dois aspectos que hoje infelizmente não conseguimos ver separados.
Minha esperança e satisfação por viver em São Paulo são alimentados, no entanto, pelas histórias dos que aqui nasceram ou chegaram e são felizes.
Tom Zé, genial, ama e canta cidade sem se esquecer da sua Irará. Entre habitantes que se "agridem cortesmente", suas desilusões amorosas com a Augusta, a Angélica e a Consolação, e até como mediador do duelo entre o Ed. Itália e o Hotel Hilton, Tom Zé já passou dos 70 anos e parece um garoto no palco, com certeza por conta dessa osmose que realiza com a cidade há tantos anos.
Enfim, a idéia aqui era homenagear a cidade mas acabei transformando tudo num emaranhado de referências, sobretudo ficcionais, sobre São Paulo. De qualquer forma, missão cumprida, já que minha relação com a cidade fundamenta-se não só na minha relação com ela mas na produção artística que a retrata.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Bruno Oliveira

As gravuras abaixo são do meu irmão, Bruno Oliveira. Quando criança, na sala de aula, distraía-se ao vôo da primeira mosca que zumbisse à sua frente e deixava de prestar atenção na professora. Mamãe ficava preocupada, e deu no que deu. Seus trabalhos são de extrema sensibilidade, e ele transita entre vários referenciais estéticos porque faz questão não só de fazer como de estudar arte. Esta série que vocês estão vendo está na minha casa, na parede do meu escritório. Me remete tanto a repentistas do nordeste do Brasil quanto aos bluesmen do sul dos E.U.A., que afinal, cada um em sua terra, são os homens simples e rústicos que carregam em suas vivências marcas profundas das histórias de seus países, e as transformam em pura música.

Visitem o portfolio completo do Bruno! www.flickr.com/photos/oitoart




quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Discos redescobertos!





Logo depois que o escritório ficou pronto aqui em casa, remexi nos meus vinis. Que maravilha! Repassei um por um os Beatles, Byrds, até o Rust in Piece do Megadeth!!!!
Mas bom mesmo foi redescobrir dois discos que arrematei em duas situações e para os quais não tinha dado muita bola. Na primeira, o pai de uma vizinha que tinha uma casa noturna se desfez dos vinis. Levei umas bombas e outros bem legais. Entre eles Life's Rich Pageant, do R.E.M.. É o quarto disco da banda, de 1986. Rock e ponto final. Honesto como sempre o foi a trupe de Stipe e Mills. Quando fui ao Rock in Rio em 2001, especialmente para ver o cantor Beck, não imaginava que ia ver um show tão de gente grande quanto o do R.E.M..
Pois bem, agora não paro de ouvir o disco.
A outra pérola, literalmente, consegui no bazar da igreja que meu pai administra. Vinte discos por vinte reais. Falo especificamente de Perola Negra, disco que colocou Luiz Melodia no mapa em 1973. Inovador, trabalhando sonoridades à frente do seu tempo. Um discão. Prá aquietar, um rockão no estilo Chuck Barry Fields Forever, é a minha preferida!!!!
Redescobrir livros, discos, filmes, no geral é muito prazeroso porque de fato a obra não mudou nada, mas você sim. A velha história de que nunca é o mesmo rio que passa em determinado ponto cabe perfeitamente para essas situações.
Pena que o mercado fonográfico brasileiro é uma vergonha, e nem procurar esses CDs vocês precisam, estão os dois esgotados. Quem sabe nos sebos da vida vocês não têm a mesma sorte que eu?

Bom final de semana todos!!!

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Guarda-Chuvas: nem a ficção futurista tem solução melhor

Não gosto de carregar guarda-chuva. Hoje, ao sair do trabalho, precisei enfrentar uma chuva forte e não pude esperar passar. A situação era de emergência, precisava levar meu filho ao médico. Ao sair do Conjunto Nacional, os astutos vendedores de guarda-chuvas (que ao primeiro sinal de sol transformam seus stands em bancas de bonés e protetores solares) estavam prontos a me oferecer vários modelos. "Sombrinha 5, guarda-chuva grande 10", bradou o ambulante com um modelo masculino aberto. Saquei os R$ 10,00 e já saí com o produto aberto nas mãos, prontinho para enfrentar a água. Entrei na estação Consolação (missão cumprida para o guarda-chuva), tomei o metrô até a Vila Madalena, e ao descer ali, adivinhem? A chuva tinha passado. Não me importei porque meu objetivo estava bem claro na minha cabeça, e também porque daqui uns dois ou três dias chuvosos sei que precisarei de um guarda-chuva novo. São todos descartáveis hoje em dia. Aliás, se eu fosse fabricante, daria à minha fábrica o nome "Águas de Março", não porque é bonito homenagear Jobim, mas porque os guarda-chuvas do momento só duram um mês e olhe lá.
De qualquer forma, não há o que os substitua. Capas de chuva são menos práticas ainda. Nem a ficção inventou nada melhor. Na Los Angeles de 2019, o oficial Deckard enfrenta uma noite chuvosa e os transeuntes se protegem com o quê? Guarda-chuvas, dos tradicionais. Aliás, nem sinônimos encontrei para definí-los. Repararam quantas vezes mencionei a palavra guarda-chuvas? Até mudei a cor para ficar mais fácil de vocês contarem. Então, aproveitando que estamos no campo da linguagem, fui ao dicionário Aurélio a fim de tentar encontrar um sinônimo para enriquecer um pouquinho que seja meu texto. A busca foi infrutífera. Imagine só substituir a palavra em qualquer uma das ocorrências acima por "armação de varetas móveis, coberta de pano ou doutro material, para resguardar da chuva ou do sol"* De qualquer forma, está para nascer a invenção que substituirá o guarda-chuva (bem como a palavra que enriquecerá nosso vocabulário guardachuvístico). Continuamos então debaixo da armação retrátil. Mas que não chova, de preferência. Para amanhã, 04/01, em São Paulo, Sol e aumento de nuvens pela manhã. Pancadas de chuva à tarde. À noite o tempo fica aberto.

Bom final de semana a todos!


* Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio: o dicionário da língua portuguesa / Aurélio Buarque de Holanda Ferreira; coordenação de edição Margarida dos Anjos, Marina Baird Ferreira - 6. ed. rev. atual - Curitiba : Positivo, 2006.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Daqui a 100 anos em DVD!!!

Acaba de sair em DVD no Brasil o filme Daqui a 100 anos (Things to come, 1938), baseado no texto The Shape of things to come, de H.G. Wells. A história não é das mais conhecidas e adaptadas de Wells, mas muito interessante. Em uma trama que acontece num período de 100 anos, o planeta passa por uma guerra, uma peste, e é reformulado por um grupo pacifista que reconstrói tudo o que foi devastado, mas não da conta, mesmo em uma sociedade pacífica e movida pelo progresso científico, de sanar as eternas contradições da humanidade. Uma temática sintonizada com o ponto de vista crítico que marcou os trabalhos do autor, tanto nesta obra quanto nos clássicos Guerra dos Mundos e Máquina do Tempo.
A responsabilidade pela empreitada é do Paulo Gustavo Pereira, Diretor de Redação da Sci-Fi News e com certeza um dos grandes divulgadores e entusiastas da ficção científica no Brasil. Ele está à frente da nova distribuidora Norfolk, que começou com 4 títulos no final de 2007 mas promete muita coisa boa para este ano. O material é legendado e dublado, e nos extras dois itens dignos de nota: compatibilidade com i-pods, mp4s e afins, e material adicional produzido no Brasil. Isso mesmo! Neste dvd há uma entrevista com o meu amigo Fábio Madrigal Barreto, jornalista especializado no assunto, que comenta aspectos relevantes da obra de Wells e da ficção científica em geral.

Aí nos meus links você já pode ir direto ao site da Cultura. Já estamos vendendo o filme por lá!

Um abraço a todos e boa semana!