Acabo de assistir Watchmen e enfim entendo porque foi tão difícil, nos últimos dias, encontrar uma sala de cinema exibindo o filme em horário decente em São Paulo, já que só na próxima segunda completa-se um mês de exibição do filme no Brasil. O fato é que a adaptação é direcionada muito mais para quem leu e gostou da HQ, com pouca pretensão, a meu ver, de angariar um novo público, o que no fim das contas acho bom. Não por conta da questão do público em si. Quando um livro ou HQ vira cinema é claro que há o mínimo de intenção de atingir um interlocutor diferente com uma boa história. Mas no caso de Watchmen, se o direcionamento pendesse para essa tendência com certeza sacrificaria-se a história. No fim das contas acredito mesmo que a trama de Alan Moore acabou se mostrando complexa e pouco interessante para um suposto grande público de cinema. Quem curte mesmo a história já viu no primeiro mês, e assim os cinemas vão tirando o filme de sua programação ou incluindo-o em horários estranhos, ou muito cedo ou muito tarde, o que se torna um complicador já que a duração é de três horas.
A opção de Zack Snyder e dos roteiristas David Hayter e Alex Tse por uma adaptação fiel, tanto em enredo (extremamente próximo da HQ) quanto em linguagem, mostra-se evidente, por exemplo, em alguns momentos pontuais, como o do jantar de Daniel Dreinberg e Laurie Juspeczyc em que esta cita a Lei Keene e não há nenhum indício próximo na estrutura do roteiro que explique ao espectador não-iniciado do que se trata. Para a apresentação dos personagens, Snyder e os roteiristas também não fugiram da HQ, o que tornou inevitável a transposição para a tela do volume 1 (minha edição é a da editora Abril, 1999, em 12 volumes) praticamente na íntegra.
Efeitos especiais funcionam muito bem a não ser pelo uso de slow motion um tanto excessivo. As caracterizações estão todas muito boas também, e os detalhes pincelados aqui e ali são para fã de quadrinhos nenhum botar defeito, como a aparição do jornaleiro e do menino que lê a história do Cargueiro Negro. Das atuações, gosto da maior parte, e destaco as de Matthew Goode (Ozymandias) e Jackie Earle Haley (Rorschach) como as melhores. Só Malin Akerman é uma Laurie Jupiter bem fraca, o que salta aos olhos já que se trata de um dos personagens centrais da história. Emocionante a sequência inicial, com os quadros estáticos ao som de The times they are a-changin'. Bom também ouvir o All Along the Watchtower na versão do Hendrix.
Enfim, especial ver Watchmen ganhar vida na tela do cinema, e uma ou outra ressalva não comprometem. Se uma meia dúzia de interessados parou para conhecer a HQ depois de ver o filme já está valendo. De vez em quando Hollywood tem que trabalhar menos para os cifrões e mais para o nosso prazer, é o mínimo.