Durante a transmissão da semifinal do Campeonato Paulista de futebol entre Palmeiras e São Paulo, no último domingo, 20/04, o narrador da partida pela Rede Globo de Televisão, Cleber Machado, anunciou não poucas vezes uma entrevista exclusiva que iria ao ar no Fantástico daquela noite sobre o caso Isabella Nardoni, a menina de 5 anos jogada do sexto andar do prédio onde morava, em São Paulo, em 29 de Março.
Qual não foi a surpresa dos espectadores do "Show da Vida" quando viram que os entrevistados eram os próprios Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá, pai e madrasta da menina, indiciados pelo crime. A entrevista tomou pelo menos dois blocos do programa, não me lembro do tempo exato pois não a acompanhei inteira. O fato é que se tratava de uma oportunidade, segundo deixaram clara a própria emissora e o casal, de mostrar ao Brasil quem Nardoni e Jatobá realmente são, diante de tantas "pedras" atiradas neles pela multidão enfurecida, real ou virtual, em todo o país. No final do Fantástico, o apresentador Zeca Camargo lembrou que a partir dali o telespectador teria mais subsídios para julgar o casal, subliminarmente conotando o papel imparcial da TV, que serve o cidadão, e ao mesmo tempo isentando a própria emissora de qualquer juízo de valor. Tanto é verdade que as opiniões expostas na longa cobertura do programa foram todas expressadas por especialistas em áreas relacionadas, como o direito e a psicanálise.
No entanto, no Jornal Nacional do dia seguinte, 21/04, a matéria sobre o caso enfatizou as repetições no discurso do casal, tanto em relação aos depoimentos anteriores quanto ao próprio caráter circular da entrevista, durante a qual, evidentemente orientados pela defesa, os indiciados repetiam as mesmas informações sempre que tinham oportunidade e nada revelavam de novo. Depoimentos de familiares de Alexandre Nardoni ao longo da semana passada também redundavam em torno das mesmas informações, sobre o casal e a menina. Pensemos então no que a Globo fez e desfez: explorou o sensacionalismo do material exclusivo e no dia seguinte afirmou que a entrevista nada revelara de esclarecedor. A curiosidade das massa de telespectadores que assistia ao Fantástico naquele momento, e não via a hora de "encarar" os "cruéis assassinos" de frente, por si só já justificou a audiência, e até aí estaríamos dentro do esquemão comercial da televisão, que bem sabemos como funciona. A contradição está no dia seguinte, pois o canal não desmentiu os próprios indiciados, mas questionou a própria credibilidade jornalística da cobertura. Realmente não vou entrar no mérito de opinar sobre quem cometeu o crime ou não, quem é inocente ou não é. Do lado de fora da porta é fácil ouvir o que quer.
A idéia aqui foi refletir mais uma vez sobre a nossa imprensa. A decepção não é novidade mas vale sempre à pena lembrar as pessoas de como as coisas funcionam. Afinal, somos todos conhecidos como um povo sem memória.
Trocando em miúdos, no vale tudo da mídia brasileira, até as entrelinhas e mensagens implícitas estão escancaradas. Mas é claro que para o "Homer Simpson" a gafe passou batida. Se vocês não se lembram, em 23 de Novembro de 2005 um grupo de professores da USP visitou a Rede Globo, e o editor do Jornal Nacional, William Bonner, definiu o espectador médio do programa comparando-o ao pai da família Simpson.
O que estamos esperando então? Rosquinhas e controle remoto na mão, e bunda no sofá!!!!
Igor Oliveira